Pé no freio

O governo Lula – e não é diferente com administrações estaduais como a de Requião, no Paraná – está com o pé no freio. Ao contrário do que a esperançosa e desavisada opinião pública esperava, a administração petista não começou com o pé no acelerador, disparando logo medidas que significariam mudanças e o atendimento de reivindicações, aguardadas por décadas, pelos que não se sentiram atendidos pelos sucessivos governos de centro e centro-direita, cujo ciclo se interrompeu agora.

Foi o tempo de semear diretrizes, mas não houve condições de elaborar programas de mudanças que pudessem ser detonados numa primeira hora.

Não se distinguem no Brasil duas elites políticas e, principalmente, técnicas. Na área econômico-financeira, as lágrimas da ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, quando soube da nomeação do novo presidente do Banco Central, são significativas. Há uma só elite nessa área e os que a ela não pertencem são compelidos, senão constrangidos, a abraçar as mesmas idéias dos que deixaram o poder. As circunstâncias o exigem, em se tratando de um país gigante, endividado, inserido neste mundo global que não pode abandonar.

Lula e as forças que o elegeram não podem, não devem e não querem abandonar o ideário das mudanças, priorizando o social, para tentar de uma vez por todas mudar a cara do Brasil. Essa cara de país de terceiro mundo com uma privilegiada e pequena camada de nababos aproveitando todos os frutos do desenvolvimento. Mas o quadro encontrado é de dificuldades financeiras. Tanto maiores as necessidades e amplas as promessas quanto gigantesco o seu custo. A imprensa especula e o ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho, já admite até um aumento do superávit das contas públicas para acima dos desejados 3,7% do PIB, quem sabe 4% ou mais, pois é preciso primeiro resolver o constrangimento da dívida, que suga uma expressiva parcela de recursos que se pretende usar para custear os projetos sociais.

Busca-se redução de juros nos empréstimos externos. Procura-se – e já se encontra – a reconquista da confiança do mercado. Suspendem-se obras rodoviárias, em especial a duplicação de estradas, substituindo-as pelos remendos de buracos. Adia-se a licitação para compra de novos aviões para a Aeronáutica, como medida de economia e a hipotética esperança de que o Brasil possa produzi-los. Sonhar não está proibido e, por enquanto, não custa nada.

Há os que não economizam palavras, como o ministro do Trabalho, que escorregou em suas idéias contra os trabalhadores, ao discorrer sobre o FGTS e o seguro-desemprego. Ou, na área tecnológica, ondese falou em construirmos a bomba atômica, sandice digna de um Bush botocudo. O novo governo está parando tudo para se situar, conhecendo de perto o que antes, visto de longe, criticava ferozmente. E pensava ser fácil modificar. Quer, do lado de dentro, redimensionar seus compromissos para, daqui a alguns meses ou talvez um pouco mais, começar devagar, governando onde for essencialíssimo.

Uma cautela necessária e uma atitude certa. O perigo é o desencanto que pode causar na esperançosa opinião pública. Ontem, a televisão mostrava, no Rio, filas imensas de pessoas procurando emprego nos órgãos especializados. E acreditando que as mudanças já começaram. Por enquanto, só começaram as novas intenções.

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