Contabilidade do Primeiro Comando da Capital (PCC) revela que a organização criminosa montou um verdadeiro banco para fomentar o tráfico de drogas e dar empréstimos para seus integrantes. Até lideranças da facção, como Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, receberam ajuda, segundo a contabilidade apreendida pelo Departamento de Investigações sobre o Crime organizado. De fato, no mês de dezembro de 2004, os documentos mostram que "Narigudo" emprestou R$ 18 mil. Narigudo ou Playboy são os apelidos pelos quais Marcola é conhecido dentro da organização.
Em junho de 2005, o total de empréstimos concedidos para "os irmãos" chegava a R$ 585.100. Outro que foi auxiliado pelo caixa da organização foi o piloto (gerente) da zona norte, Marcelo Vieira, o Capetinha, acusado dos ataques contra a polícia em janeiro. Em novembro de 2004, consta na documentação que ele recebeu R$ 5 mil de empréstimo.
A contabilidade registra ainda que o Narigudo começou a quitar a dívida em fevereiro de 2005, pagando R$ 4,5 mil à facção. Há ainda o registro de que um outro líder da facção, conhecido como BH, pagou R$ 18 mil à organização no mesmo mês.
Foi para a mulher de BH, chamada Viviane, que um preso conhecido como Disciplina telefonou no último dia 22 passando a ordem da cúpula para matar cinco funcionários de um Centro de Detenção Provisória (CDP) de São Bernardo do Campo. A polícia montou uma operação para impedir o ataque e matou 13 integrantes da facção.
Em junho de 2005, o PCC contou um investimento de R$ 222 mil em drogas, comprando "20 latas de óleo" (20 quilos de cocaína). A maioria delas ficou na capital, mas "6 foram para firmas (pontos de droga) na Baixada Santista e quatro viraram 8 peças de pedra" ou seja, foram transformadas em crack. O total da arrecadação nas ruas e nos presídios com o tráfico chegou a R$ 800.600,00.
Os gastos e os lucros da organização são regionalizados. A zona leste de São Paulo é a campeã de arrecadação. É ali que estão, segundo a contabilidade, os pontos-de-venda de droga mais lucrativos do PCC com mais de R$ 100 mil de lucro mensal. O Deic investiga a identidade dos nomes citados no documento apreendido em 2005 com Deivid Surur, o DVD, o contador do PCC.
Mantida em sigilo pela polícia, a contabilidade mostra a compra de armas como fuzis AR-15 e AK-47. Há ainda pagamentos de cestas básicas a parentes de presos e de ônibus para transportar as visitas aos presídios do interior. Por fim, mostra a compra de prêmios da loteria do PCC, o pagamento de gravatas (advogados) e até quanto a facção gasta para sustentar os presos que estão em solitárias, a chamada tranca, e não podem ganhar seu dinheiro nas prisões. Só em junho a tranca levou R$ 87 mil dos cofres da facção.