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A reunião do presidente Lula com os prefeitos eleitos do PT quis significar paz na corte. Depois das eleições, o governo sofreu alguns tremores. Não chegaram a ser terremotos, mas abalaram suas estruturas, por frágeis. A reforma ministerial, resultado da voz das urnas e imposição do desejo de reeleição de Lula, já vinha agitando o governo. Surgiu a dolorosa missão de despedir alguns altos próceres petistas que compõem o governo, para dar lugar, em acordos considerados indispensáveis à governabilidade e à reelegibilidade, a nomes de outros partidos, em especial o PMDB e PP.

O PMDB, por seu porte, pareceu a Lula indispensável nas hostes do governo. Mas o partido de José Sarney tem um grupo forte, encimado por seu presidente, Michel Temer, desejoso de livrar-se do governo e trilhar caminhos próprios nas eleições de 2006.

O PMDB desobrigar-se-ia de apoiar o governo, abriria mão de seus dois ministérios e outros cargos que ocupa e reivindicaria independência na escolha de candidatos. Outro grupo peemedebista trabalha no sentido contrário. Pressiona o governo por mais um ministério. Exige que seja política e administrativamente forte, com dinheiro e "caneta para nomear". Essa questão ainda não foi resolvida e o será no próximo dia 12, quando haverá convenção nacional do PMDB.

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Lula deseja jogar um balde de água fria na insurgência, fazendo a reforma antes daquela data e nomeando, desde logo, mais peemedebistas para o seu governo. É evidente que a defenestração de petistas cria uma situação constrangedora. Para muitos, até explosiva. Na reunião com os prefeitos, tudo foi feito para dizer que há paz no governo. Lula prometeu atender aos prefeitos petistas. E não só a eles, mas de todos os partidos, o que cumpriria o objetivo de substituir um governo do PT por uma moldada coligação. Entrará até o PP de Maluf.

As divergências entre o chefe da Casa Civil, José Dirceu, que há pouco disse sentir-se incômodo na função que ocupa e desejoso de voltar ao Congresso, tendo sido mesmo cogitado para a presidência da Câmara, e o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, foram dadas como inexistentes. Isso, quando todo o mundo ouviu as críticas de José Dirceu, que chegou a declarar que a política econômica orquestrada pelo ministro da Fazenda e apoiada incondicionalmente por Lula poderia custar a este a perda da reeleição.

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Lula e Palocci declararam apoio irrestrito à política econômica, que, significando arrumar a casa, traduz-se por uma política fiscal severa, conquistas de superávites cada vez maiores, acordos repetidos com o Fundo Monetário Internacional e o uso das reservas para o pagamento da dívida externa. Pouco ou nada para o desenvolvimento econômico e social do País, bandeira sempre levantada pelo próprio PT.

Demonstrando a paz no reino, Lula disse: "Somos como a Quinta Sinfonia de Beethoven. Nós compomos com o Palocci e com o País e estamos afinados".

Garantiu, secundado por José Dirceu, desenvolvimento econômico nas áreas de infra-estrutura e investimentos na Educação, já para o ano que vem. Certamente com esperanças no sucesso das Parcerias Público-Privadas, que parecem desencalhar no Congresso. Resta saber se funcionarão. Se a iniciativa privada vai se arriscar a ter o governo como sócio em obras de longa maturação e caríssimas, como ferrovias, portos, etc.

A realidade é que se mostrou que temos um governo otimista, pois o que promete passa por percalços difíceis, se não impossíveis de superar.