O dinheiro de um país deve corresponder ao que ele produz em bens e serviços. O do Brasil está dividido entre o governo, nos seus diversos níveis, as empresas e os trabalhadores. A maior parte fica com o governo. Depois, vêm as empresas, que ficam com menos que o governo. Em último, os trabalhadores, as pessoas que produzem. As empresas ajudam, são indispensáveis como estruturas organizadas de produção. Mas sem os trabalhadores, desaparecem. Enquanto isso, o governo geralmente atrapalha, embora fique com a parte do leão. A análise crítica é grosseira, mas nem por isso menos verdadeira. Estamos vivendo tempos bicudos. Elegemos um governo voltado para os trabalhadores e os problemas sociais e, certo ou errado, por praticar uma estrita e estreita política monetarista, provocou um terrível aumento do desemprego. Enquanto isso, vale tudo contra o desemprego.

Aqui, os trabalhadores sempre foram voltados a reivindicar participação nos lucros das empresas. E quando estas dão prejuízos, participarão também?

Como uma subtração de seus salários, ainda não, a menos que se flexibilize a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), como é intenção de muitos governantes. Por enquanto, há relativa irredutibilidade de salários. Mas, se houver participação nos lucros, deveria haver também nos prejuízos. É justo.

Melhor seria um capitalismo socializado, em que os trabalhadores, aquela maioria que fica com a menor parte do dinheiro, fosse sócia e partícipe do sistema. Que cada trabalhador fosse sócio da empresa em que trabalha e até de outras. Isso se faz com a abertura do capital das empresas, um mercado acionário forte e bem fiscalizado e bolsas de valores atuantes. Não seria novidade, pois assim funciona em muitos países desenvolvidos.

Mas, como aqui os juros são altíssimos, extorsivos e não há mentalidade de abertura de capital das empresas, pois boa parte delas ainda é familiar, esse caminho, por enquanto, está inviabilizado. E a gestão profissional ainda não pegou.

Surgem fórmulas atenuantes, nesta hora de desemprego. Uma delas é a formação de cooperativas de trabalhadores para que assumam a gestão das empresas em dificuldades, em especial se são aquelas onde trabalham. Quem mais recentemente falou no assunto foi o presidente do Tribunal Superior do Trabalho, ministro Francisco Fausto, que disse: “Não podemos ser apenas monetaristas. Agora é o momento de incentivar qualquer medida que impulsione a criação de empregos”.

O Ministério do Trabalho diz que já existem 289 empresas geridas por trabalhadores reunidos em cooperativas. A Organização das Cooperativas Brasileiras aponta para a existência de 147 cooperativas de produção criadas para gerir empresas em dificuldades. Os trabalhadores, ao invés de ser transformados em desempregados, passam a ser empregados e patrões de si mesmos. É um bom caminho, não o único nem a solução definitiva, mas que pode e deve ser seguido. Mas o ministro Francisco Fausto adverte: o governo tem de ajudar, não só na formação dessas cooperativas, como com estímulos que as façam funcionar. Dentre as políticas, crédito a juros adequados. E não fará mais que a obrigação, pois se cria o desemprego com as políticas que adota e, ainda por cima, fica com a maior parte do dinheiro do País, que pelo menos dê uma mãozinha para que os trabalhadores se organizem e resolvam o problema por seus próprios meios.

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