Não há palavras para descrever o estarrecimento da população da maior cidade da América do Sul e uma das maiores do mundo, que no espaço de noventa dias assiste à terceira onda de ataques desfechada pelo crime organizado contra instalações públicas e privadas, incluindo desta vez um prédio onde funciona parte do Ministério Público do Estado de São Paulo.
Desde o ataque de maio ao do último final de semana, segundo números da Polícia Militar, morreram 172 pessoas, entre criminosos, policiais e civis inocentes. Um barbarismo jamais visto no País, que transforma em coisa de amadores as carnificinas da Candelária e Vigário Geral, ocorridas há alguns anos no Rio de Janeiro.
A mão pesada do terror caiu mais uma vez com fúria vingativa sobre São Paulo e em poucas horas (até a noite de segunda-feira), ônibus, postos de gasolina, agências bancárias, caixas eletrônicos, concessionárias de automóveis e um supermercado haviam sido incendiados ou semidestruídos. Numa tática urdida pela patologia cerebral dos líderes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), o alvo passou a ser a propriedade privada, com a finalidade calculada nos mínimos detalhes de conduzir ao paroxismo do desespero uma população já humilhada pelo despreparo inconseqüente do aparato jurídico-administrativo que tem a obrigação constitucional de defendê-la.
Em alocução que passa a figurar com destaque na antologia das platitudes, o comandante da Polícia Militar de São Paulo declarou que o crime organizado deixou de atacar policiais e passou a causar danos ao patrimônio privado com medo de represália fulminante da força pública. Enquanto isso, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e o secretário da Segurança Pública, Saulo de Abreu Filho, embrutecem o bate-boca sobre o não-cumprimento da promessa do governo federal de liberar R$ 100 milhões para aprimorar serviços de inteligência, reconstruir presídios derrubados pelo PCC e adquirir armas e equipamentos modernos para combater a criminalidade.
Numa hora de aflição aguda da população desarvorada, justifica-se o ministro lá dos píncaros de sua sapiência e honorabilidade burocrática explicando que o dinheiro não percorreu os caminhos da instantânea transferência eletrônica (não é possível supor que devesse trafegar no lombo de muares), porque o governo estadual não apresentou o projeto de utilização dos recursos!
Marcola e seu exclusivo grupo de redatores de ?salves?, os bilhetes com instruções para a ação orquestrada do efetivo externo da onipresente quadrilha, devem ter rolado de rir nas celas de segurança máxima em que estão bem guardados, além da estupefação óbvia ante a passividade lerda e arrogante das ?autoridades? incumbidas pela sociedade das prerrogativas de governar.
O ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, sem perder a pose de dândi de Pindamonhangaba, vestiu perigosamente a beca de luminar da sociologia de botequim para enxergar na terceira onda do PCC suspeitíssima motivação política. Só não revelou a favor de quem…