Retrato de uma calamidade anunciada: entre os anos de 1989 e 2002, fontes oficiais de financiamento emprestaram 25 mil vezes mais dinheiro para desenvolver a pecuária bovina na região amazônica do que para o reflorestamento. Os dados foram revelados por Cristina Amorim em reportagem publicada por O Estado de S. Paulo, na edição de terça-feira.

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Enquanto o Banco da Amazônia emprestou aos pecuaristas da região US$ 5,8 bilhões do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte, menos Mato Grosso e Maranhão, os projetos de reflorestamento obtiveram apenas US$ 10 mil. Ou seja, menos que o preço pago por uma picape de luxo, objeto de consumo dos novos magnatas do sertão.

Dado esclarecedor da reportagem, mas inquietante para dizer o mínimo, é que na Amazônia há três vezes mais bois que seres humanos. A maior floresta natural do mundo, com sua exuberante reserva de água doce ameaçada por um ciclo de secas que pode ter começado este ano, vem sendo rapidamente extirpada pela motosserra ou pelo fogo. A hiléia tornou-se pasto da irracionalidade.

O próprio governo, por meio de um banco público, financiou a destruição do bem natural mais precioso da nação, desnudando a falácia da política de preservação do meio ambiente, alçada como bandeira pelos governantes de então.

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É uma forma abjeta de encher de opróbrio os responsáveis pela gestão da política para o meio ambiente do citado período, meros bonecos de engonço diante do descalabro dos empréstimos públicos a quem estava determinado a destruir a floresta. Pior, sob o olhar comprometido dos agentes públicos.

Aliás, é o sentimento que tira o sono da ministra Marina Silva, legítima representante dos povos da floresta, lutadora da estirpe de Chico Mendes, o primeiro a tombar diante da escalada da dendroclastia.

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Na verdade, mesmo que os crimes ambientais tenham sido perpetrados por governos anteriores, hoje a abnegada servidora pouco pode fazer para conter a destruição do remanescente incumbida de defender no cargo de ministra do Meio Ambiente.

Um disparate que deve causar exclamações de espanto e zombaria nos quatro cantos do mundo, pois não é norma civilizada dispensar a ministro de Estado tratamento tão humilhante. Mais difícil de compreender é que a indicação de Marina foi uma espécie de garantia real das intenções do governo Lula para o setor.