Já falamos dos avanços que a democracia brasileira vem alcançando nesta conturbada campanha eleitoral. A preocupação da Justiça Eleitoral de conscientizar o povo de que é ele quem manda e os eleitos não serão mais do que seus mandatários, empregados qualificados que não se eximem e, sim, se obrigam a obedecer as ordens recebidas ao conquistarem os cargos para os quais se candidataram, tem sido um intenso trabalho didático e patriótico que deixará suas sementes. Reconhecemos a importância do fim do voto mascarado e as virtudes do voto às abertas, que permite ao eleitorado fiscalizar os atos de seus mandatários e impedir que, impunes, repitam as pizzas que transformaram em festa processos contra políticos que feriram o código de ética parlamentar ou até mesmo se locupletaram com dinheiro público ou à custa de negociatas feitas com a manipulação de emendas ao orçamento.
Não obstante esses avanços, temos de reconhecer, com tristeza, que sob outros aspectos estas eleições estão sendo um retrocesso. O Brasil está caminhando contra a corrente, em especial no que se refere à gestão e propriedade dos meios de produção, de serviços públicos ou não e no que concerne à regulação dessas atividades, quando entregues à iniciativa privada.
Como pano de fundo dessa volta atrás está o próprio processo eleitoral, que ainda permite as alianças regionais e desrespeita de todo a natureza dos partidos políticos. Deles são dispensadas ideologias e até programas. Unem-se integralmente ou aos pedaços com o objetivo único de conquista do poder. E poder com o significado de ocupação de cargos e não assunção de encargos.
Diante desse quadro, a população parece já não mais prezar a honestidade nos seus representantes, voltando a valer o ?rouba, mas faz? utilizado nos tempos do político paulista Adhemar de Barros. A oposição cedeu, com a maior cara-de-pau, aos ataques a avanços como a entrega pelo Estado de certas funções que vinha exercendo à iniciativa privada, quando este é o caminho seguido por todos os países desenvolvidos e as economias que optam pelo desenvolvimento. As privatizações, satanizadas pelos situacionistas e eleitoreiramente pelos oposicionistas, hoje acontecem até na ditadura comunista da China. Há o reconhecimento de que o Estado é incapaz de cumprir sequer com suas obrigações próprias, como cuidar da segurança, da educação, da saúde pública e da infra-estrutura básica. Começou-se a descobrir que não lhe cabia brincar de industrial, de banqueiro e exercer outras atividades em substituição ou concorrendo com a iniciativa privada. O interesse público, nos casos das privatizações, bem pode ser defendido através de regulamentações fiscalizadas por organismos criados para esse fim. Até aí o Brasil caminhou, mas começaram a demolir essas organizações fiscais do poder público e acabou-se por levar ao povo a idéia de que as próprias privatizações é que são um mal e não os desvios praticados ao fazê-las.
O resultado foi o retrocesso na opinião pública e nos próprios programas e discursos eleitorais dos candidatos. Lula, tanto como Alckmin, são contra as privatizações, embora nenhum deles fale em resolver o problema partindo para as estatizações.
Esse é um caminho demagógico e que pode fazer com que o Brasil retroceda décadas no seu processo de modernização. E o resultado será o governo não cumprindo com as funções que lhe são próprias nem com as que invade e já provou que, para exercê-las, é incompetente.