Uma das reclamações mais constantes que se fazem dos partidos políticos é a total falta de critério no que diz respeito à coerência com os valores programáticos estabelecidos nos documentos de fundação. Poucos são os partidos, sobretudo no caso brasileiro, na prática do dia-a-dia, que conservam alguma simetria com o que está escrito nos códigos internos.
Não fosse pela comparação esdrúxula com a contravenção originada da outrora inocente brincadeira inventada pelo Barão de Drummond, dir-se-ia que na seara dos partidos políticos "não vale o que está escrito".
Pois este início de ano trouxe uma informação que, à primeira vista, surpreende pelo grau de coerência com a realidade que nem a mais perfeita maquiagem poderia ocultar. Os dirigentes do Partido da Frente Liberal (PFL) estão anunciando que, depois de duas décadas de atuação, o partido vai mudar de nome, passando a chamar-se Partido Democrático de Centro (PDC), ou Partido de Centro Democrático (PCD).
Com a tendência que atualmente se manifesta no cenário político brasileiro, da convergência cada vez mais acentuada dos grandes blocos para o centro, o PFL decidiu não conceder a nenhum outro grêmio a primazia de ostentar, em toda a sua extensão, a ideologia centrista.
Afinal, se dos partidos sempre se exigiu que fossem coerentes, o PFL, apesar dos longos 20 anos que precisou para amadurecer a decisão, agora apresenta-se à opinião pública com a cara descoberta, sem temer juízos de valor, interpretações casuísticas e as inevitáveis "versões", que sempre constituíram no universo político tupiniquim um prato cheio.
O Partido da Frente Liberal é uma ramificação do Partido Democrático Social (PDS), sucessor imediato da figura de triste memória que atendia pelo nome de Arena. O PFL foi o braço principal da famosa Frente Democrática Liberal que elegeu – por via indireta – Tancredo Neves para a Presidência da República, no histórico pleito que sepultou a pretensão presidencial do hoje atribulado Paulo Maluf.
Dado esclarecedor da concepção política desse partido centrista é que, numa história de 20 anos, em 18 anos ele foi governo e oposição declarada somente dois anos, qual seja a situação presente em relação a Luiz Inácio Lula da Silva. Há quem diga que o partido resolveu abrir o jogo e declarar-se de centro, guiado pelo instinto de sobrevivência, numa conjuntura que não oferece a tantos outros grupos senão tomar a mesma direção. Daí o anúncio imediato da mudança do nome, a ser marcado por uma série de eventos públicos, alguns de caráter internacional, que darão o clima de espetáculo ao lançamento da nova grife.
Resta saber se a mudança trará os resultados esperados.
