São Paulo – A participação da Bolívia no projeto de construção e operação do Gasoduto Venezuela – Cone Sul é condição primordial para a realização do empreendimento. A posição foi manifestada hoje (26) pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, dita em entrevista coletiva após reunir-se com os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e Néstor Kirchner (Argentina), em São Paulo. "A Bolívia é prioritária para o projeto, por causa de suas reservas de gás natural, a segunda maior da América do Sul. Com a participação boliviana, o projeto é sustentável, inicialmente, por 20 anos, e vai prosseguir muito além", declarou Chávez, dando mostras de que a expectativa de participação boliviana é maior do que o "convite" informado hoje pelo assessor especial do presidente Lula para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia.
O presidente venezuelano não entende haver um clima conflituoso entre os governos brasileiro e da Bolívia, por conta de problemas que a administração de Evo Morales possa causar a empresas brasileiras, sobretudo para a Petrobras. Na visão dele, Brasil e Bolívia podem resolver tais disputas de forma amistosa, com conversas, as quais ele próprio promete auxiliar. Ao mesmo tempo, Chávez declarou que Morales "bate a bola no local correto como Ronaldinho". "Evo Morales acerta o ponto exato. Defendemos o interesse de nossos povos", ponderou.
Segundo Chávez, o projeto do gasoduto será estendido para todos os países sul-americanos, e uma comissão formada por Brasil, Argentina e Venezuela apresentará o empreendimento para as demais nações do continente. "Vamos fazer uma malha que vai para Colômbia, Equador e Bolívia, e uma comissão vai informar o Chile o Uruguai, Paraguai, Peru, Suriname, Guiana e França", declarou em tom jocoso, numa citação da Guiana Francesa.
Embora tenha prometido ofertar "gás muito barato", o presidente venezuelano assegurou que o projeto possui viabilidade financeira e que já há investidores privados, inclusive de fora do continente, interessados em participar do empreendimento. "O investimento se pagará em pouco tempo. Creio que vão sobrar recursos", disse. Para a fase de elaboração, os governos de Brasil, Argentina e Venezuela investem, neste momento, segundo Chávez, US$ 10 milhões, e a proposta final será apresentada na primeira quinzena de agosto. "Depois, vamos sair em road show por Londres, Madrid, Washington, Brasília, São Paulo, e vai chover investidor", informou entusiasmado. Para ele, o projeto terá continuidade independentemente de eventuais mudanças de presidentes em todos os países envolvidos. "A primeira etapa será concluída em 2010, e o projeto só termina em 2017. O projeto transcende períodos constitucionais", observou.
Além disso, ele entende a obra como fundamental para garantir a sustentação da matriz energética de todos os países sul-americanos. "O projeto deve ser uma locomotiva para a mudança estrutural da sociedade, eliminando a exclusão e a desigualdade. Serão mais de um milhão de empregos criados e mais de US$ 20 bilhões de investimentos. Será um projeto de necessidade suprema porque, dentro de poucos anos, começará uma crise energética no Cone Sul, dado o consumo de Brasil, Argentina e Chile", argumentou.
