Parreira tem grupo comportado nas mãos

Poucas vezes como agora a seleção brasileira teve grupo tão bem comportado e tranqüilo. Nenhum dos 23 jogadores que Parreira levou para a Alemanha se encaixa na categoria de "bad boy", aquele atleta que costuma ter talento, mas que também dá muito trabalho e está sempre no centro de notícias polêmicas. Esse elenco amável corre o risco de voltar para casa nesta quarta-feira, se perder para o Japão – com estragos imprevisíveis nos planos de alguns jovens que pretendem voltar para o Mundial de 2006.

"Se considerarmos que o Brasil sempre entra como favorito em uma competição, a eliminação será frustrante", admitiu Júlio Baptista, um dos que sonham em garantir vaga no grupo que disputará a Copa no ano que vem. "Mas, independentemente de derrota, tudo vai depender do que cada um pôde apresentar aqui e da avaliação do treinador."

Gilberto tem linha de raciocínio semelhante. O lateral-esquerdo segue à risca a cartilha politicamente correta que dá o tom ao comportamento do grupo e nem quer imaginar a possibilidade de fiasco em Colônia. "Seria ruim para todos", alertou o jogador do Hertha Berlim. "Para mim, seria ruim, porque vim para cá para mostrar que tenho condições de ser reserva de Roberto Carlos. Ficar até o fim me daria chance de jogar mais vezes, de ser bem avaliado."

Gilberto, inclusive, garantiu que não se incomoda com cansaço, calendário, comida e concentração, toda a rotina da seleção. "Para mim, tudo está bom. Só o fato de estar na seleção já compensa qualquer sacrifício", revelou.

Esse espírito tem a aprovação de jogadores mais experientes. Roque Júnior, capitão nas duas partidas anteriores da Copa das Confederações, não vacila ao admitir que é "muito melhor" trabalhar com colegas mais sossegados. "Nunca joguei em times com jogadores temperamentais. Por isso, fica um pouco difícil avaliar como seria a convivência com esse tipo", adiantou. "O importante é ter a companhia de gente que sabe seus limites, que respeita a individualidade dos outros. A harmonia é fundamental, principalmente em competições como esta, em que a gente fica muitos dias em concentrações, um ao lado do outro, 24 horas por dia."

Emerson endossa a recomendação de Roque Júnior. Como é um dos que têm mais tempo de estrada – e horas de hotéis pelo mundo afora -, o volante da Juventus concorda que o bom relacionamento só traz conseqüências favoráveis a uma equipe. "Aqui, temos jovens maduros, que sabem o que querem e isso facilita nossa rotina", contou. "Tudo fica mais fácil assim." Os elogios mais entusiasmados vêm do próprio Parreira. Na avaliação do treinador, se não fosse a "consciência" de seus jogadores, a esta altura já teria enfrentado problemas, por conta de quase um mês sem folga.

"Estamos trabalhando praticamente direto desde o início do mês, quando nos reunimos em Teresópolis", lembrou Parreira. "Estes jogadores demonstram profissionalismo, têm boa vontade e colaboram muito."

Parreira preza a disciplina e, por isso, fica feliz por não ter nenhum "rebelde" na seleção, como já ocorreu alguns anos atrás, quando recorreu a muito tato e paciência para segurar Romário. "Às vezes, quando se tem um bad boy que resolve, a gente precisa estudar o caso com cuidado", reconheceu.

"Sem dúvida, é muito melhor tratar com pessoas mais cordiais", reafirmou Parreira. "No grupo atual, não há problema algum. Estes jogadores sabem de sua responsabilidade e para eles tem sido útil a experiência na Europa. A disciplina na Alemanha, na Inglaterra, fez com que entendessem a importância de ser pontuais, de obedecer às regras do jogo da convivência."

A rebeldia que Parreira pretende ver em campo, nesta quarta-feira, só no trato com a bola. De preferência criativo – e letal para os japoneses. Caso contrário, o grupo de bons moços faz as malas e na quinta toma avião para casa.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo