A morte do pai, em maio de 1997, em Flor da Serra do Sul, sudoeste do Paraná, de complicações pulmonares em decorrência de asma, mudou a vida do então estudante de Administração, Elzo Ferreira, 37 anos. Inconformado passou a se dedicar a encontrar a cura para a asma. A ansiedade fazia-o pensar dia e noite nisso.
E foi em sonho que viu sair líquido de um xaxim (planta com a qual convivia desde pequeno, porque o pai cortava e comercializava). Voltou os olhos para essa planta e agora está prestes a lançar um fitoterápico, que vem se comprovando eficaz na inibição da doença.
Para isso contou com a ajuda de professores, sobretudo da Universidade Federal do Paraná (UFPR). "Ele chegou com uma proposta de estudo e orientamos para os pesquisadores", disse a professora Marilis Dallami Miguel, do curso de Farmácia. Segundo ela, várias propostas chegam ao laboratório de farmacotécnica. "Mas dificilmente tem pesquisa que fecha o ciclo todo", lamentou. Por insistência e dedicação de Ferreira, seu trabalho está chegando a bom termo.
Com o envolvimento no projeto, fez novo vestibular. Está se formando este ano em Farmácia e Bioquímica. A pesquisa ganhou também um viés ecológico, com a integração do Departamento de Fitotecnia e Fitossanitarismo, do Setor de Ciências Agrárias, da UFPR, que passou a produzir as mudas de xaxim num processo de micropropagação em laboratório e germinação dos esporos.
Em risco de extinção, o corte do xaxim nativo é proibido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). "Tocamos o projeto ambiental e o científico" disse Ferreira.
Segundo ele, a primeira dificuldade foi elaborar um protocolo-padrão para o desenvolvimento de novos fármacos a partir de plantas.
"Isso faltava para a comunidade científica", ressaltou. No laboratório foi possível obter o extrato bruto da folha do xaxim – o Departamento de Química tenta agora isolar a fração ativa, o que permitiria produzir somente aquilo que interessa à farmacologia, barateando-se o produto final – e aprofundar o estudo para a produção do medicamento que vem sendo chamado de Asmazol.
Primeiramente, os testes foram feitos em camundongos, nos quais provocou-se a doença. De acordo com Ferreira, a inibição da inflamação alcançou 93,6% de êxito, enquanto 90% tiveram resposta satisfatória para a dor neurogênica. Segundo ele, as duas manifestações primárias e mais críticas da asma. Além disso, não foi constatado nenhum efeito tóxico nem morte. Os resultados do teste foram apresentados em um congresso farmacêutico em dezembro de 2003 em Bruxelas (Bélgica).
A pesquisa estendeu-se, ainda em fase pré-clínica, para 1.600 voluntários brasileiros, norte-americanos, europeus e japoneses, que receberam os comprimidos. "A satisfação foi de 98 5%", acentuou o pesquisador. No mês passado, começaram por Curitiba os estudos clínicos em 40 pacientes, já visando à aprovação por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). "Tem mostrado uma ação efetiva e rápida", atestou a médica e farmacêutica Nildamari Gozalan, coordenadora da fase clínica.
Segundo ela, um paciente estava com quadro grave, hospitalizado e fazendo inalação. "Tirei a medicação (normalmente à base de corticóides) e só com o uso deste (Asmazol) melhorou em uma semana", disse. De acordo com Ferreira em janeiro o estudo clínico deve se estender para São Paulo, Porto Alegre, Bruxelas e Nova York. Esse trabalho deve estar encerrado em meados de abril. O pesquisador espera que o medicamento esteja no mercado até o fim de 2006.
Ele já registrou três patentes para proteger a descoberta no Brasil, nos 136 países da Convenção de Genebra e nos 215 países do mundo. E já há indústrias européias, norte-americanas e brasileiras em conversações para participar da patente. "Buscamos um parceiro forte para não sermos engolidos", afirmou o advogado Jurandir Alievi, sócio de Ferreira na empresa Natureza Pura e um dos principais financiadores do projeto. O volume de recursos investidos até agora não é revelado.
Doença que se caracteriza pela inflamação crônica das vias aéreas inferiores, com causas ainda não devidamente elucidadas, a asma, de acordo com o International Study for Asthma and Allergies in Childhood, dos Estados Unidos, citado no site do Ministério da Saúde, atinge cerca de 20% dos brasileiros.
E é responsável por aproximadamente 350 mil internações anuais pelo SUS. Por reduzir a capacidade respiratória acarreta uma série de contratempos, prejudicando a qualidade de vida. Mais informações podem ser obtidas no site www.naturezapura.com.