Depois de uma aventura de quase dois anos pelas águas do Atlântico, cujo projeto foi interrompido por um acidente na costa dos Estados Unidos, o casal Geraldo e Valéria Ormerod está de volta ao Brasil. Eles desembarcaram em Curitiba – onde moram há treze anos – no final de semana. Além de enfrentar diversas dificuldades com o fim do sonho, que era dar a volta ao mundo em um veleiro, o casal deixou a Flórida depois de enfrentar dois furacões. Mesmo com todos os problemas que encontraram na viagem, os Ormerod não descartam uma nova aventura, agora por terra firme.

O projeto Atlântico 2002 teve início em 20 de abril de 2002, quando o casal saiu de São Francisco do Sul (SC) rumo a uma viagem que duraria de quatro a seis anos. A idéia era velejar pela costa brasileira, passando pelas Américas Central e do Norte, Europa e África. A preparação para esse sonho começou um ano antes, quando o economista Geraldo Ormerod, 59 anos, e a pedagoga Valéria Ormerod, 63, resolveram se desfazer de seus bens, como casa, postos de combustíveis e carro para levantar o dinheiro necessário para o projeto. A estimativa é que eles investiram entre US$ 50 mil e US$ 60 mil na embarcação – o veleiro Vadyo – e na viagem.

“A idéia era subir a costa brasileira, entrando em todos os portos”, disse Geraldo. A primeira aventura começou com a Regata Refeno, entre Recife e Fernando de Noronha, considerada a maior regata oceânica brasileira. Depois eles seguiram para as Ilhas Salut, na Guiana Francesa, e passaram a virada do ano em uma ilha do Caribe. Nessa região encontraram uma realidade quase desconhecida dos turistas que visitam as belas praias do Caribe. Valéria conta que muitos moradores de ilhas independentes pedem trabalho para os visitantes em troca de comida.

A viagem seguiu a caminho de Miami. No dia 17 de maio deste ano, o casal rumava ao Cabo Canaveral, na Flórida. “Por volta das 22h passamos e-mail para a família e amigos avisando nossa posição, e tudo seguia tranqüilo”, contou Valéria. A noite estava calma e já era possível avistar o clarão da cidade que ficava cerca de cinqüenta quilômetros do local. Mas o casal foi surpreendido quando o veleiro sofreu um forte impacto. Geraldo foi lançado para dentro da cabine e, com o balanço, a embarcação começou a encher de água. “Nesse momento houve um princípio de pânico, pois achávamos que o barco iria afundar”, falou Valéria, que foi acordada com a água quase atingindo a cama.

A água também danificou os equipamentos eletrônicos. Mas o casal conseguiu pedir socorro para a guarda costeira, que os conduziu para South Bridge Marina, em Fort Pierce, na Flórida. Enquanto aguardavam o socorro, eles identificaram que o veleiro se chocou com um contêiner que estava boiando no mar. A situação, que parece inusitada, tem muitas chances de acontecer. Segundo Valéria, as companhias seguradoras estimam que 10 mil contêineres estão perdidos no mar. Isso acontece porque o transporte desse material é muito mais barato se estiver na parte externa do navio.

Problemas

O acidente foi apenas o começo dos problemas do casal, que viveu uma longa e cansativa disputa para conseguir que a seguradora ressarcisse os prejuízos. “Considero que foi uma sucessão de erros”, disse Geraldo. Mesmo vencida a batalha com a empresa, o Vadyo não teve mais condições de ser recuperado e o projeto precisou ser abortado. O casal resolveu ficar os seis meses que tinham para permanecer no país em Fort Pierce. Alugaram uma casa, compraram um carro e fizeram muitos amigos. Mas no início deste mês foram surpreendidos com os furacões Frances e Jeanne, que devastaram toda a região, e abandonaram os planos dois meses antes, retornando ao Brasil no último final de semana.

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