Código de trânsito. Radares eletrônicos. Multas. Campanhas. Nos últimos anos foram muitos os mecanismos criados para tentar reduzir o número de acidentes de trânsito no País. Muitos deles, principalmente as campanhas, lembram o alto número de mortes no trânsito: cerca de 20 mil. Em 2004, ocorreram 7.082 acidentes nas vias de Curitiba, com 84 mortes.
Porém, segundo o sociólogo Eduardo Biavati, que coordenou durante 13 anos o Programa de Prevenção de Acidentes de Trânsito da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, em Brasília, o foco das campanhas de trânsito deve ser outro.
"Nos últimos cinco anos a gente patina no patamar de 20 mil mortes, o mesmo número de 1981. Se não houvesse esses mecanismos, estaria bem maior. O que não houve foi uma redução no número de feridos", explica Biavati. Sobre esse tema, o sociólogo ministra palestras em empresas, mas vem tentando trazer o trabalho também para escolas de Curitiba. "Muita gente escapa dos acidentes. Cerca de 320 mil pessoas, no País, ficam para contar a história, mas falta a informação."
O sociólogo vai além em sua experiência. "Se você investigar, nota que essa vitória da redução de mortes se transforma numa derrota. Você vê que se formou um exército de incapacitados", afirma Eduardo Biavati, que ainda revela o porquê desses dados não aparecerem. "As pessoas não coletam esses dados. Se desse para mostrar que entre estar vivo e estar morto há várias possibilidades seria mais eficaz, mas a gente não tem essa informação firme na mão", completa. Um exemplo, o Detran não tem esse registro de inválidos do trânsito.
Perfil
De acordo com o sociólogo, é possível dizer quem são os "soldados" que fazem parte desse "exército" de vítimas do trânsito. "São jovens, entre 14 e 25 anos, e de cada 10, sete são meninos. Nada mata mais nessa idade do que a violência: bala ou trânsito. Além disso, é o que mais deixa seqüelas definitivas", revela Biavati.
"Quem paga isso num país como o nosso é a saúde pública, com resgate, atendimento de emergência e reabilitação. Só em reabilitação gasta-se por dia quase R$ 3 mil com um paciente. E quanto custa uma faixa de pedestre pintada? Qual a escolha, montar toda uma estrutura de reabilitação ou educar as pessoas?", propõe o sociólogo.
Confirmação
O diretor técnico do Hospital Cajuru e cirurgião clínico, Luiz Carlos Vonbahten, confirma tal realidade. "Cerca de 60% das vítimas que chegam ao hospital são de acidentes de trânsito. Os atendimentos são desde lesões mínimas até traumatismo craniano ou fraturas na coluna. Posso dizer que em média, num plantão de sexta-feira, em Curitiba, você interna três pacientes em terapia intensiva. Somente ontem, seis aguardavam vaga para terapia intensiva. A maioria deles relacionados com o trânsito. A demanda é muito grande", afirma o médico, que diz ainda que, em nível de Brasil, a cada morte, três pessoas ficam com seqüelas do trânsito.
Vonbahten concorda em outro ponto com o sociólogo. "Preocupa-me muito essa pouca divulgação e cobrança dos dados. A fiscalização do trânsito também é um problem de saúde pública e cidadania", afirma o diretor do Cajuru.