R.Z.R., de 16 anos, diz que sente
muito a ausência do namorado.

A liberação da visita íntima para adolescentes internos em unidades sócio-educativas ainda é polêmica. Grande parte das pessoas que trabalham com esses jovens acha que a sociedade precisa discutir o assunto, antes de tomar qualquer atitude. Outros, porém, são radicalmente contra, afirmando que o relacionamento sexual não é uma necessidade nessa idade.

Alguns exemplos estão no Educandário Joana Richa, em Curitiba. R.Z.R., de 16 anos, por exemplo, reclama muito da ausência do namorado. Ela vivia numa situação de mulher casada há um ano e meio. ?Sinto muita falta do carinho dele. Não devia ser proibido para quem já tinha um relacionamento?, diz. P.S., 16, também sente falta. Ela vivia com o namorado há cinco anos. Eles foram presos no mesmo período, há dois meses. Se ele estivesse solto, ela gostaria de encontrá-lo e afirma que não faz questão do relacionamento sexual, mas sim do carinho dele. ?Quem tem um relacionamento sério deveria receber visita?, defende.

Entretanto, há adolescentes que não concordam com a liberação da visita íntima. É o caso de D.S.B., 15. Ela acha que se liberar para algumas meninas, todas deveriam ter o direito. ?Iria ficar difícil para a unidade controlar?, comenta. Mas ela admite que gostaria de ser visitada. ?O tempo passaria mais rápido?.

Homossexualismo

Para driblar a abstinência sexual, muitas confessam que se masturbam. Outras, contudo, buscam o carinho em uma companheira, vivendo temporariamente uma situação homossexual. D.S.B. confirma que a situação acontece na unidade. A diretora Lilian Drews explica que isso ocorre porque as meninas são extremamente carentes no plano afetivo. Muitas não tinham família e o único carinho vinha do namorado. ?Quando elas chegam, sentem falta do contato físico, do colo de alguém?, conta. Outro fator importante é a própria idade onde a sexualidade começa a aflorar.

Lilian fala que o problema é resolvido em conversas individuais com médicos e psicólogos. Elas são orientadas a conseguir o prazer sozinhas, no quarto e sem expor ninguém. Palestras sobre Aids e doenças sexualmente transmissíveis também são ministradas.

A diretora conta que, para muitas garotas, o sexo é só uma forma de conseguir prazer imediato. Com isso, elas não preservam o corpo, deixando a saúde de lado. Para mudar essa visão, é feito um trabalho de valorização do indivíduo, onde cada uma é estimulada a gostar de si mesma.

Quanto as visitas íntimas, Lilian acha que ainda é necessário muita discussão sobre o assunto, já que a adolescência é fase de ?ficar?. São poucas as que têm um relacionamento mais sério.

Normas para meninos

No Educandário São Francisco, em Curitiba, os meninos seguem normas parecidas com as das adolescentes. A assistente social Solemar de Gouveia diz que, quando eles entram na unidade, ficam sabendo das normas. A masturbação não é proibida e pode ser conseguida no horário de banho e não nos alojamentos, já que são coletivos. Mas para desviar atenção do sexo, diversas atividades são oferecidas, como jogos.

As relações homossexuais também são combatidas. Uma das medidas é a separação por compleição física, para que nenhum garoto seja pego a força. Quando ocorre um caso, o jovem é isolado por um tempo. Igualmente às meninas, os adolescentes também recebem orientação sexual e aprendem a se proteger da Aids e DSTs.

Solemar também acha que a liberação da visita íntima precisa ser discutida, principalmente com a família, já que nessa fase o adolescente ainda está sendo preparado para a vida. Deveria se estudar de que forma isso ocorreria, a legislação vigente e quais os critérios estabelecidos.

O presidente do Instituto de Ação Social do Paraná (Iasp) – que cuida das instituições socio-educativas no Paraná -, Aloísio Pacheco, diz que não há preocupação com a liberação da visita íntima. Ele conta que entre os internos ninguém é casado. Ele explica ainda que o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) não faz nenhuma recomendação nesse sentido. Adota a medida quem quer. Aloísio complementa, dizendo que, em discussões com técnicos do Iasp, chegou-se a conclusão de que a liberação da visita íntima não é uma necessidade.

Para a sexóloga Cláudia Guimarães Klotz, a interrupção do contato íntimo não traz problema para os adolescentes. Pelo contrário, ela diz que pode ser um momento que contribua até para os jovens aprenderem a controlar seus impulsos em outras áreas, já que a sexualidade é só uma parte da personalidade. Além disso, o período em que eles ficam reclusos, geralmente, não é muito longo. Para ela, o necessário nessa fase é a masturbação, para que haja o autoconhecimento.

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