Este ano o número de ocupações, conflitos, prisões e assassinatos no campo aumentou consideravelmente em todo o País em relação ao mesmo período de 2002. Nas estatísticas, o dado mais drámático é o numero de assassinatos. Até setembro deste ano foram 60, contra 30 do ano passado. As ocupações também tiveram um salto: são 259 contra 148. Conforme o relatório, o Paraná está em terceiro entre os estados no número de ocupações. Até agora foram 29, contra 5 de 2002. Os números foram divulgados ontem pela Comissão Pastoral da Terra (CPT).
O secretário-executivo da CPT no Paraná, Jelson Oliveira, afirma que o aumento no número de invasões tem duas explicações. A primeira foi a expectativa criada em relação à reforma agrária quando Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência do País, já que o assentamento das famílias era uma de suas principais promessas. A outra, a demanda que ficou reprimida no governo de Fernando Henrique Cardoso. “Agora as pessoas estão motivadas a voltar a lutar pela terra”, fala Jelson. Segundo ele, no Paraná existe mais um fator que colaborou para a elevação dos números. A postura política do governador Roberto Requião de tratar o assunto como um problema social a ser resolvido e não como caso de polícia.
Os números
Além das ocupações, que envolveram 55.826 famílias, também houve aumento no número de acampamentos no País: 149 contra 57 do ano passado. Todo esse crescimento colaborou para que os conflitos e mortes no campo também se elevassem. Em 2002, os estados com maior número de conflitos foram Pará (84), Maranhão (64), Minas Gerais (58), seguidos por Mato Grosso (43) e Pernambuco (40). Este ano quem se destaca é Mato Grosso com (73), Pará (59) e São Paulo (40). No Paraná foram registrados 21 conflitos.
Pernambuco é o estado onde ocorreu a maioria das ocupações, foram 86 (contra 25 de 2002). Depois vem Minas Gerais com 30 (contra 20 de 2002) e em terceiro o Paraná com 29 (contra 5 de 2002). Pernambuco também é o estado onde há o maior número de acampamentos (39), depois Goiás com 23.
O Pará ainda conserva o primeiro lugar em assassinatos, 35 contra 20 em 2002. Depois Pernambuco com 6 mortes. No Paraná foram quatro, dois só no ultimo mês. Anarol Lino Vial, 52 anos, e Paulo Sérgio Brasil, 36 anos, foram mortos em confronto com seguranças da Fazenda Coqueiro, em Foz do Jordão. Desde 1980, 49 pessoas no Estado perderam a vida devido à luta pela terra. Segundo Jelson, a formação de milícias por fazendeiros fez com os conflitos e a violência aumentassem.
Também houve aumento no número de prisões no País, 223 este ano, contra 158 em 2002; e de famílias despejadas judicialmente, são 89 ações envolvendo 17.949 famílias contra 68, envolvendo 9.715 famílias.
Apesar de toda a pressão que vem do campo, inclusive com o surgimento de outros grupos sociais como o Movimento Terra Brasil (MTB), Jelson avalia que este ano pouca coisa foi feita pela reforma agrária. Ele diz que o Paraná é um dos estados mais adiantados nesse sentido, mas o Incra não dispunha de terras para assentar as famílias. “O governo anterior não deixou nada”, fala. Ele explica que o Incra está vistoriando fazendas para a desapropriação, mas o processo é demorado. A CPT espera que o Plano Nacional de Reforma Agrária que está para ser lançado este ano agilize a situação, amenizando a violência que se instaurou.
MST diz que vai cumprir o prazo
Um dos coordenadores regionais do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra(MST) no Centro-Oeste, Adelir de Lima, confirmou que o grupo de 270 famílias que ocupa a Fazenda Sonda, em Santa Maria do Oeste, na região de Cascavel, irá sair do local até a próxima terça-feira.
Na última quinta-feira, um acordo do MST e da Secretaria de Estado da Segurança Pública fez com que os sem-terra ganhassem um prazo de cinco dias para sair da fazenda. “Estamos procurando outro local. A chuva está atrapalhando, mas vamos cumprir nossa parte no acordo”, revelou Lima.