Violência contra mulher persiste no Paraná

Diagnóstico de graves doenças sociais, a violência doméstica contra a mulher é mais comum do que se pensa e repercute em conseqüências graves para toda a família. A rejeição pela denúncia se justifica por diversos motivos, mas a perda da auto-estima e a sensação de impotência em avaliar e agir sobre as situações que vivem em casa mantêm muitas mulheres em um cárcere físico e emocional. Na maior parte das vezes, o marido é o agressor e apenas a sensação de ter chegado ao limite da dor ou o medo de morrer é que levam a vítima até a Delegacia da Mulher.

Os números são altos. Em Curitiba, apenas nestes primeiros cinco meses do ano, mais de 1,4 mil mulheres foram até a Delegacia da Mulher prestar queixa contra maridos ou companheiros agressores. A maior parte das denúncias de violência doméstica é por lesão corporal: 599 registros; em segundo lugar, aparecem as ameaças, com 438 denúncias. O caminho mais longo, porém, está nos anos que essas mulheres passam sob constante violência física e moral.

?Elas convivem, em média, sete anos ou mais com essa violência. Mas já tivemos casos de mulheres que só denunciaram após 25 anos de sofrimento constante?, revela a assistente social da Fundação de Ação Social (FAS) da Prefeitura de Curitiba, Nádia Moreira. ?Elas têm medo, acham que não têm para onde ir. Há muitas vezes dependência financeira dos parceiros e, principalmente, a vergonha de se expor?, conta.

Geralmente, as mulheres que vivem sob agressão são mantidas presas dentro de casa pelos maridos e constantemente acusadas de traição, mesmo não tendo contato com outras pessoas. Os maridos as privam do contato com a família e quase sempre possuem vida extraconjugal. ?O problema é que elas têm esperança na mudança de comportamento do companheiro e se sentem culpadas, apesar de sofrerem agressão, por deixá-lo e serem tachadas de destruidoras do lar?, esclarece a titular da Delegacia da Mulher de Curitiba, Darli Rafael.

Outro grave problema são as conseqüências psicológicas acarretadas por essas mulheres. De acordo com a psicóloga Tânia Dallalana, ?elas ficam desatentas, ansiosas e angustiadas. A auto-estima fica abalada e elas não se vêem mais como donas de suas emoções, direções e raciocínios?.

Abrigo

A Prefeitura de Curitiba mantém um abrigo especializado em receber mulheres que denunciam os maridos, acompanhadas pelos filhos, até que haja recuperação psicológica e financeira. Lá, elas permanecem por cerca de 45 a 60 dias, recebendo assistência e reorganizando suas vidas. ?Nossa meta é que nesse meio-tempo elas já estejam empregadas e adquiram uma casa para morar?, afirma Nádia, que é responsável pelo atendimento no local.

A.S.B; 25 anos, é um desses exemplos. Com quatro filhos pequenos, sofreu durante sete anos agressões físicas e verbais do marido. ?Só podia sair de casa se estivesse com ele, e de cabeça baixa, senão ele dizia que estava olhando para outros homens.? O marido não permitia que ela trabalhasse ou se relacionasse com outras pessoas. ?Não podia nem me arrumar, colocar uma roupa bonita?, lembra. Hoje, cerca de dois meses após a denúncia, ela já tem emprego e uma casa alugada. ?Estou recomeçando. Mas é muito difícil deixar tudo para trás.?

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