Vila Torres procura um “antídoto” para problemas

Os efeitos colaterais já estão diagnosticados, mas os problemas com o lixo na Vila das Torres, em Curitiba, estão longe de serem eliminados. É o que reclamam os moradores do local, que participaram ontem, no Colégio Estadual Manoel Ribas, da reunião para discutir a situação, promovida por entidades governamentais que fazem parte do Fórum Vila das Torres. Alguns deles, que se manifestaram na ocasião, se mostram já cansados de tanta reunião e exigem uma solução.

Entre os principais problemas que a situação do lixo traz para o bairro, como aponta um funcionário da pasta social do município, que não quis ser identificado, estão a questão da saúde, a falta de documentação básica dos catadores (identidade), o trabalho infantil, o consumo de drogas dentro dos depósitos de lixo e, principalmente, a questão da moradia. Segundo ele, os catadores moram nos próprios depósitos, com crianças, junto com o lixo que recolhem.

Essa situação precária de moradia também assusta o Ministério Público. "Praticamente todos os catadores não têm autonomia alguma. Eles até moram nos depósitos, vivem em cubículos e pagam para dormir e para comer", conta a procuradora Margareth Matos de Carvalho, coordenadora do Fórum Lixo e Cidadania, de Curitiba, Região Metropolitana e litoral.

Conforme a procuradora, a culpa dessa situação não é bem do dono do depósito, que é taxado como explorador. "O dono do depósito também é um miserável que precisa sobreviver", afirma. Para a maioria dos catadores, o grande explorador não vive na vila. "A gente trabalha exclusivamente para tratar do atravessador, o grande, que não está aqui", conta Rosalvo Barbosa, carrinheiro há seis anos na Vila das Torres e na profissão desde 1975.

Origem do problema

O presidente da Associação Comunitária da Vila das Torres, Timóteo Borges de Campos, também tem uma explicação sobre os problemas com o lixo na vila. "No Prado Velho não se pode montar um depósito. O município e o IAP (Instituto Ambiental do Paraná) vão lá e multam. Mas dentro da vila pode. Por que essa diferença? Só porque é favela? É discriminação", diz.

Segundo ele, muitos dos projetos que os órgãos públicos desenvolvem no bairro, como a tentativa de se criar uma cooperativa de reciclagem, não têm resultados. "O trabalho do Estado aqui é muito capenga. Eles usam a vila como cobaia. Os projetos começam, mas nunca chegam ao fim", conta Timóteo.

Possíveis soluções

Segundo o presidente do IAP, Rasca Rodrigues, os principais problemas na região são dois: o vínculo entre os catadores e os atravessadores; e o catador que coleta e leva o lixo para a casa. "Os dois têm um descarte em torno de 60%, que é comercializado, e 40% que não", afirma.

Portanto, para Rodrigues, a solução seria acabar com essas duas situações. "Organizá-los e libertá-los dos atravessadores", afirma.

Descrédito

Mesmo participando das reuniões e escutando, com esperança, as possíveis soluções para os problemas da Vila Torres, vários catadores e moradores não estão muito confiantes nessa ação conjunta – entre órgãos dos governos de Estado e município, Delegacia Regional do Trabalho e Ministério Público, presentes na reunião de ontem. "Já participei de 50 reuniões, mas até agora, nada", revela Barbosa. 

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