Vila Leonice, no Cachoeira, está há 12 anos sem água e luz

Cerca de 35 crianças, moradoras na Rua João Krzyanowski, Vila Leonice, Cachoeira, em Curitiba, freqüentemente são caçoadas pelos colegas da escola, porque estão cheirando mal. Às vezes, passam até três dias sem tomar banho, por falta de água em suas casas. Donas de casa da região torcem para que a chuva caia nos dias de falta de água, para que elas tenham como cozinhar. Para beber, só água mineral, isso quando o orçamento permite comprá-la. Ter comida conservada na geladeira, ou eletrodoméstico que ainda não queimou, é luxo para muitas das 55 famílias moradoras da rua, que vivem há 12 anos sem abastecimento regular de água e luz.

Os moradores se viram com ?gatos? (ligações clandestinas) de água e energia, que são sempre inconstantes. Uma mangueira, ligada a um relógio de água comunitário, tenta abastecer as 55 residências. Mas as casas que ficam no topo da rua sofrem com a falta de pressão para encher as caixas. A dona de casa Leila de Fátima Hederick pena para dar conta dos trabalhos domésticos. Quando chove, abastece todos os vasilhames que pode e, assim, garante água para cuidar dos dois filhos que ainda moram com ela. Até na escola próxima chega a faltar água, deixando banheiros malcheirosos e o prédio com má conservação.

Daniel Derevecki
?Gatos? são o recurso para compartilhar energia elétrica.

Energia

Devido aos ?gatos?, a energia varia muito. Uma só ligação chega a abastecer três casas que, como qualquer residência normal, possui diversos aparelhos domésticos necessários para uma vida decente. A luz inconstante faz tudo funcionar mal.

Reinaldo já mandou consertar geladeira e computador, queimados por conta disso. Uma jovem de 15 anos morreu recentemente, porque o aparelho inalador, que ela necessitava para viver, não funcionava direito.

Daniel Derevecki
Leila torce para chover para ter água para cozinhar.

Até uma casa no topo da rua já foi incendiada, por um curto-circuito. Além de variar durante o dia, a luz sempre vai embora entre as 18h30 e 20h.

O problema está localizado apenas na Rua João Krzyanowski. As casas ao redor, em outras ruas, estão todas regularizadas. No entanto, denunciou um morador, algumas pessoas que possuem a ligação autorizada da Copel, puxam os ?gatos? da João Krzyanowski para não pagar conta de energia elétrica. ?A nossa situação, que já é péssima, fica ainda pior?, finalizou o morador.

Moradores esperam decisão da Justiça

Não é por vontade dos moradores da Vila Leonice que a situação está assim. A Rua João Krzyanowski é uma área invadida por 55 famílias que, em 1997, conseguiram acordo judicial com a proprietária da terra, para regularizar as moradias. No acordo, explica Reinaldo Domingues da Silva, presidente da Associação de Pais, Mestres e Funcionários do Colégio Estadual Presidente Getúlio Vargas, instalada no local, os moradores pagariam o terreno e, em contrapartida, a proprietária providenciaria as instalações de água e luz.

Pagamento

As famílias deram entrada de R$ 600,00 e financiariam 18 parcelas de meio salário mínimo. Porém, apenas metade dos moradores quitou a dívida. Outra parte deixou de pagar pouco depois da metade das prestações, porque, além de não verem as instalações prometidas, a dona da área não providenciou o documento necessário para a regularização.

A rua já até possui canalização de água e esgoto, mas nem a Sanepar nem a Copel fazem as ligações nas residências devido à briga judicial. Nem asfalto a prefeitura faz por conta disso. Para piorar, a dona da terra morreu há cerca de três anos. Assim, o processo de regularização ficou mais complicado.

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