A vida real como matéria-prima para a produção intelectual. Em quase 30 anos de exercício de medicina, Marco Teixeira, 51 anos, captou nos consultórios e hospitais traços de personalidade e diferentes situações para construir diversas histórias e personagens. Com seis livros escritos, um publicado e outro contemplado com o primeiro lugar na Lei do Mecenato, ele custou a reconhecer algum talento no que escrevia, mesmo arrematando alguns prêmios importantes, como o Gralha Azul de Literatura, desde os anos 90.

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Hoje, porém, ele se percebe como um “escritor médico e não um médico e escritor”. Isso, no entanto, não exclui o gosto que ele tem por “atender e ajudar pessoas”. “Sempre preferi dar assistência aos mais necessitados”, garante. Tanto que atua como médico da família na Unidade Municipal de Saúde Palmeiras, no bairro Tatuquara, e como clínico no Hospital Psiquiátrico Nossa Senhora da Luz. “Tive por dez anos consultório particular, mas além de não cobrir os custos, não é o que me atrai na profissão. Gosto da rotina de estar entre aqueles que mais precisam, tanto na saúde mental quanto física”, explica.

E na busca da cura, ele faz uso da alopatia e da homeopatia. “Assim como muitos colegas, eu não considerava a homeopatia até que constatei na cura da bronquite do meu filho mais velho a eficácia desse tipo de tratamento. Desde então passei a estudar e indicar para os meus pacientes”, conta o médico.

Segundo ele, toda a polêmica sobre a validade do tratamento homeopático ocorre por falta de informação e os interesses comerciais da indústria farmacêutica. “O mecanismo de atuação da homeopatia age em níveis mais profundos. Pena que essas pesquisas que consideram como placebo o remédio homeopático não conseguem decifrá-lo. Mas não tenho dúvida de que a medicina do futuro está na homeopatia”, defende.

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Receita médica

Para Teixeira, a receita para se cultivar uma boa saúde mental e física está em ingerir três porções de frutas e três de verduras diariamente, beber moderadamente, cultivar a tolerância de modo a reduzir os momentos de contrariedade com pessoas e situações e exercitar o bom senso. Já para escrever bem, ele indica alguns autores que são indispensáveis na sua formação literária: John Maxwell Coetzee, Fiodor Dostoievski e Rubem Fonseca.

Sonho é viver da venda dos livros

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A jornada de trabalho de 72 horas semanais e a necessidade de pagar as contas fazem com que o lado escritor só tenha vazão no curto tempo livre que ainda é dividido com a família. Aliás, o livro que ele tem publicado – “Morrendo de Saudades Cartas de um pai separado” – foi inspirado na própria dor da perda da convivência com os filhos após o divórcio. “Mesmo com uma separação consensual, foi uma adaptação dolorosa a perda do convívio diário. A saída que encontrei foi escrever cartas para que eles não me conhecessem apenas nos momentos de lazer, como finais de semana, que é a parte que resta a muitos pais separados”, explica.

A obra, premiada pela Lei do Mecenato, já conta com 30% de auxílio da América Latina Logística (ALL). O romance é inspirado em um paciente com esquizofrenia que ele conheceu no Hospital Colônia Adauto Botelho. E mesmo em processo de captação de recursos para publicar o livro, ele segue escrevendo outra obra de ficção, com mais de 200 páginas, cujo título provisório é “Olhai por Nós”. “São três histórias de personagens distintos, mas que convergem”, antecipa.

Ele sonha com o dia que “viverá da venda de seus livros”. “Muitos consideram uma aposta na utopia, mas quando vejo, a qualidade de alguns best sellers, acredito que um dia poderei viver disso, já que minhas obras são melhores”, avalia Teixeira, revelando uma confiança que demorou a ser conquistada. “Se isso não acontecer, sigo na realidade com a qual convivo diariamente, com pessoas à beira da morte ou fora de si e driblando as dificuldades geradas pelas limitações de recursos das instituições de saúde”.