A disputa por uma vaga na Universidade Federal do Paraná (UFPR), a mais concorrida do Paraná, começa amanhã. São 42.079 candidatos distribuídos em 22 locais de prova, para a primeira fase do processo seletivo, que começa às 14h. Com 80 questões, a prova é composta por perguntas de conhecimentos gerais. Para esse concurso, os três cursos mais concorridos são Medicina (29,44 candidatos por vaga); Publicidade e Propaganda (26,57) e Direito – manhã (24,63).
A principal mudança neste ano é em relação às cotas. Hoje, há 20% das vagas destinadas às cotas raciais e 20% para estudantes de escolas públicas. Caso uma das cotas não seja totalmente preenchida, a outra parcela de cotistas receberá as vagas. Até o ano passado, o que restava das cotas era destinado a todos os candidatos.
Os aprovados realizam a segunda fase do vestibular nos dias 9 e 10 de dezembro, que abrange provas de compreensão e produção de textos, além das provas específicas, que variam de acordo com o curso pretendido.
Na segunda-feira, será divulgado o gabarito provisório da prova, na página do Núcleo de Concursos da UFPR (www.nc.ufpr.br). O gabarito definitivo sai até 3 de dezembro, quando também deve ser divulgado o resultado da primeira fase do vestibular.
Apostas
Temas que ocupam as páginas dos jornais, diariamente, devem estar presentes na prova. Biodiversidade, formas menos poluentes de energia e água são temas que podem ser cobrados tanto na redação quanto em matérias como Física, Química, Biologia e Geografia, segundo o diretor do curso Dom Bosco, Ari Herculano de Souza.
Nas provas de História e Geografia, vale uma atenção especial para assuntos como terrorismo e nova ordem mundial. Destaque também para o debate em torno da ética, um possível tema de redação, por conta dos últimos acontecimentos políticos.
Para Souza, se essa for a escolha dos elaboradores da prova, o estudante deve ter a capacidade de sair do senso comum. ?A questão da ética é muito mais do desvio de dinheiro público, mostrado diariamente na mídia. Um tom mais acadêmico e análise de ações corriqueiras, como furar o sinal ou a fila do supermercado, podem ser abordados?, sugere.
Especialistas dizem que segredo é permanecer calmo
Mara Andrich
Ansiedade, medo, pânico, ?branco?. Receio de desagradar os pais, os amigos. Escolher a profissão errada. Estas são só algumas das sensações de um vestibulando na véspera das provas. E não é para menos. Ainda mais quando se trata do concurso da UFPR, no qual apenas 10% dos inscritos conseguem uma vaga. Porém, os especialistas alertam que é preciso acalmar os ânimos, respirar fundo, acreditar em si mesmo e nunca desistir, afinal vestibular tem todo ano.
A maior parte dessas sensações é resultado da pressão da sociedade, principalmente da família, diante de uma fase da vida em que se cobra muito dos jovens. Pelo menos é o que dizem os especialistas. ?Não vamos culpabilizar a família, afinal os pais querem que o filho seja feliz, que passe no primeiro vestibular e faça uma boa faculdade. Mas, às vezes, involuntariamente, eles contribuem para a ansiedade dos jovens nesta época na medida em que cobram demais?, analisa a psicóloga e coordenadora de um grupo de orientação vocacional da UFPR, Luciana Valore.
A psicóloga especialista em orientação vocacional Gilvanise Gulicz Vial explica que nesta época o ideal é que o estudante esteja preparado em três aspectos: intelectualmente, emocionalmente e fisicamente. O problema, diz ela, é que a maior parte deles geralmente tem o conhecimento, está bem fisicamente, mas esquece do emocional. E as conseqüências, muitas vezes, não são apenas nos sentimentos. ?É aí que aparece a ansiedade, que pode gerar taquicardia, sudorese, dor de cabeça, tremores e a tão grave confusão mental, o famoso ?branco?. É o medo do desconhecido, e o corpo reage?, afirma a psicóloga.
Segundo os especialistas, a família deve dosar muito bem sua influência nesta época para não tornar o estudante ainda mais tenso. Manter a proximidade com os filhos durante todo o ano e conversar mais com eles os deixará mais seguros. Para a psicóloga especialista em orientação vocacional Gilvanise Vial, o ideal é que os pais conversem com seus filhos, ajudem-nos a ver quais são suas habilidades, a pesquisar os cursos, as grades curriculares, a conversar com profissionais que já estão no mercado de trabalho. ?Há exceções, mas em geral aos 17 anos de idade o jovem é ainda bastante imaturo para se dar conta disso tudo?, analisa.
Supervalorização do concurso atrapalha
É certo que passar no vestibular é muito importante na vida de um jovem. Afinal, é o primeiro grande passo para conquistar uma carreira profissional de sucesso. Mas alguns especialistas dizem que o culto exagerado ao concurso, que, em sua essência, é uma grande competição, pode ser prejudicial para os estudantes, pois aparece a ansiedade, que pode ser catastrófica na hora da prova. E o sentimento do ?não passei?, do ?fracassei? pode influenciar negativamente até em um próximo concurso.
?As escolas, os cursinhos, a família precisam se dar conta de que, no vestibular, muita gente boa fica de fora, pois a competição é muito grande. Para alguns, a competição é estimulante, mas, para outros, pode ser terrível. É claro que é necessário, mas as escolas passam a maior parte do tempo focadas apenas no conteúdo, e esquecem que o estudante está passando por um momento difícil, que precisam ter um espaço para falar sobre o assunto. É preciso criar essa nova cultura de que o vestibular é uma etapa na vida e que, muitas vezes, nem tudo sai do jeito que a gente quer?, analisa a psicóloga Luciana Valore.
Já a psicóloga e especialista em orientação vocacional Gilvanise Vial diz que a sociedade valoriza demasiadamente o fato do estudante passar, não importando o curso. ?É por isso que temos índices altíssimos de evasão nas faculdades. Deve-se investir mais no processo de conhecer as profissões e deixar um pouco de lado essa preocupação com a competição?, afirma.
O diretor do curso Dom Bosco, Ari Herculano de Souza, não acredita que o vestibular seja supervalorizado. ?Acho que é a primeira grande competição na vida de um adolescente. Embora vivamos em uma sociedade competitiva, a questão trabalho ainda pega muito na vida dos jovens. Para ter um bom trabalho, você precisa ter um bom diploma. E a competição vai continuar no mercado de trabalho também?, lembra.