O projeto de lei criado pelo vereado Jonny Stica (PT) que institui uma parceria entre a população e a prefeitura de Curitiba para a execução de obras de pavimentação e revitalização de vias públicas e calçadas foi aprovado em 2° turno nesta quarta-feira (10). Isso significa que falta apenas a redação final do texto e a sanção do prefeito Gustavo Fruet (PDT) para que o projeto seja colocado em prática.

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Chamado de Vizinhança Participativa, o projeto propõe que a comunidade divida com a administração pública os custos de obras pontuais e de baixo valor. Segundo Stica, Curitiba possui uma demanda reprimida de obras e que não conseguem ser viabilizadas somente com o pagamento do IPTU. “Várias regiões da cidade precisam de melhorias, mas a resposta da prefeitura é sempre padrão: ‘não há recursos para bancar esses projetos’”, comentou.

A proposta é polêmica, no entanto, já recebeu sinal positivo de Fruet, que em entrevista concedida nesta quarta à rádio CBN, se mostrou interessado em transformar a ideia de Stica em lei.  

Elitismo

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Stica argumentou que uma dos exemplos práticos da importância da convergência entre o poder público e a população está na revitalização da Praça da Espanha. Os comerciantes da região se propuseram a bancar parte dos custos referente à obra. “Muitas pessoas não ligam de pagar para ver algo melhor em frente à sua casa”, disse.

Mas para que uma obra seja executada dentro do “padrão” do projeto, é preciso que 60% da comunidade da região em que ela acontecerá esteja de acordo. Para a vereadora Noemia Rocha (PMDB), que votou contra a proposta do petista, essa falsa maioria é um dos grandes problemas do texto.

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“Os moradores que não concordarem com a obra terão que pagar mesmo assim e, além disso, quem não tiver condições de arcar com esse pagamento terá o nome incluído na dívida ativa do município”, lembrou. Em outras palavras, o cidadão incluído neste cadastro ficará impedido de vender a casa, obter escritura ou conseguir qualquer tipo de alvará.

A vereadora colocou ainda em discussão que projeto é elitista e desfavorece a periferia de Curitiba. “É um projeto que favorece a população de renda mais alta. Para a periferia haverá uma dívida a mais”, explicou.

Para o autor do texto, a questão envolvendo as áreas com menor concentração de renda já tem uma solução. A Vizinha Participativa não atuaria na periferia, ao contrário, nestes locais, todas as obras ficariam a cargo da prefeitura. “A maior explicação da lei se dará na prática. Alguns projetos que estavam engavetados poderão ser colocados em dia”.

Ciciro Back
Marlene Maria de Souza se mostrou inconformada
com mais estes custos.

Para o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná (CAU-PR), Jeferson Dantas Navolar, essa é uma medida que pode colocar lado a lado a prefeitura e o cidadão. “Acho que pode diminuir a distância entre o poder público e a população. A nossa cidade carece desse microplanejamento. O macroplanejamento é exigido por lei, mas a ‘minha caçada’ e a ‘minha praça’ ficam de lado”, comentou.

Bagunça

José Carlos Chicarelli (PSDC), um dos vereadores que rechaçou o projeto, afirmou que a proposta de Stica é a prova de que a atual gestão estaria desorganizada e alienada em relação ao seu próprio papel. “Eu acho que a população já paga bastante imposto. Nesse momento, a prefeitura colocar um projeto desse mostra que a administração n&at,ilde;o está conseguindo manter questões básicas como o asfalto. Essa é obrigação do poder público”, disse.

Outro ponto polêmico do projeto é a maneira pela qual a prefeitura irá receber o pagamento da comunidade. Segundo Noemia Rocha, nenhuma medida efetiva foi tomada em relação a essa questão e se mostrou contrária à cobrança no carnê do IPTU. Chicarelli confirmou que o assunto ainda está nebuloso e afirmou que a cobrança irá, simplesmente, gerar mais um custo para a população.

Ciciro Back
Mauro Cesar acha pagar o IPTU já é
o suficiente para arcar com as obras.

Indignação

A população também não concorda com a parceria entre o poder público a comunidade. Para a dona de casa Marlene Maria de Souza, 63 anos, se o povo já paga IPTU, não é preciso arcar com mais esta despesa. “Roubam tanto e ainda temos que bancar obra pública? Gastaram tanto na Copa e agora querem tirar de nós”, desabafou.

A estudante de Direito Letícia Souza Justus, 21 anos, contou à reportagem do Paraná Online que várias das entradas da sua faculdade são em ruas sem pavimentação, mas que a administração da cidade não se propõe a fazer melhorias na região. “A prefeitura diz que não vai asfaltar porque beneficiaria só os alunos da faculdade. Não é verdade. A rua tem muitos moradores. Acho que agora só vão asfaltar por causa do novo prédio do IML que está sendo construído. Mas a pedido da faculdade a prefeitura não fez”, comentou.

O economiário Mauro Cesar de Oliveira, 54 anos, ficou indignado com o projeto de lei. “Nós já pagamos tantos impostos, IPTU, ISS, entre outros”. Para Stica, esse seria, justamente, o argumento de grande parte de que é contrário à sua proposta. “Só porque se paga impostos vamos esperar que dali saia todos os recursos?”, questionou o vereador.

A prefeitura de Curitiba foi procurada, mas não quis se pronunciar a respeito. De acordo com a assessoria de imprensa, o texto ainda não foi levado para o prefeito.