Esqueça a imagem de plantas murchas ou ressecadas pelo calor. Apesar do verão curitibano estar sendo atípico este ano, sem as tradicionais chuvas de final de tarde, as flores enfeitam a cidade. O colorido que passa pelos tons de rosa das buganvílias e das estremosas, o amarelo vivo das cássias e o bucólico lilás das quaresmeiras pintam a cidade, encantando os olhares mais atentos, numa extensão primaveril.
O calor excessivo e a ausência de chuvas provocou um fenômeno curioso: mais flores do que o normal para o período. A explicação, porém, é científica. ?O clima provocou estresse hídrico e térmico nas plantas, provocando uma floração maior nas espécies que costumam produzir flores nesta época?, explica a doutora em Botânica Cyntia Maria Wachowicz, docente da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. O fenômeno nada mais é do que uma luta pela perpetuação das espécies. Sentindo-se ameaçadas, as plantas produzem mais flores para que tenham mais sementes a serem espalhadas. ?É uma característica evolutiva.?
O calor também propiciou a floração de espécies típicas do litoral em Curitiba, como é o caso das tumbírgias e das lamandas. ?Há algum tempo não tínhamos essas flores na cidade.? Na estrada que liga Curitiba ao litoral, a beleza da fartura de flores pode ser observada no belo tom arroxeado dos manacás da serra, conhecidos também como jacatirão.
Cuidados
Estas plantas, cultivadas por toda a cidade, seja nas ruas ou nos quintais das casas, estão em sua época de floração, mas para que se mantenham belas debaixo de tanto calor, é preciso uma série de cuidados.
Segundo a bióloga e paisagista Heloisa Moraes, a falta de chuvas tem feito as plantas sofrerem bastante. ?Por mais que seja a época da floração, para que elas permaneçam belas na ausência das chuvas é necessário muito cuidado?, diz. Dois dias sem chuva já podem comprometer a planta, especialmente as de raízes mais curtas. ?Essa é a época em que é necessário regar muito as plantas, sempre no início da manhã ou no final da tarde, quando o sol não é tão forte.? O problema das regas sob o sol a pino é simples: a água, em vez de alimentar, pode literalmente cozinhar a planta, resultando em folhagens murchas e flores queimadas.
A época de temperaturas altas não é recomendada para se iniciar um trabalho de paisagismo, já que adubagem não é indicada no calor. ?No adubo há sal e ele queima no calor. O ideal é investir no plantio de jardins na primavera e irrigá-los bastante no verão, para que fiquem frondosos?.
Outra dica para as pessoas que mantém jardins em casa é manter a grama curtinha, sempre lembrando de recolher a porção cortada para evitar a proliferação de fungos, que também podem comprometer as plantas e as flores. ?Ao molhar a grama alta ou com restos dos cortes, cria-se com o calor um ambiente propício para o desenvolvimento de fungos.?
Cartões-postais
Dois dos mais tradicionais cartões-postais de Curitiba estão recebendo cuidados especiais no período da estiagem, reflexo do verão atípico. O Jardim Botânico, famoso por sua estufa de plantas e belíssimos canteiros, está recebendo um novo sistema de irrigação e novas mudas. Na Rua das Flores, também conhecida como Rua XV, a reposição de vasos de tagetes, petúnias, beijinhos e sálvias é constante. O fornecimento de mudas para os dois locais é feito pelo Horto Municipal, que se dedica às mudas da cada estação. Nesta época do ano, o horto planta celóseas, tagetes, sálvia, beijinhos, begônias, alissons e dálias. São flores que resistem mais ao calor, mas precisam de muita irrigação. As tonalidades das flores rasteiras passeiam pelo branco, amarelo, vermelho e rosa, dando um tom vibrante ao verão.
