De cada quinze cachorros que chegam com seus donos ao litoral durante a temporada de verão, pelo menos um é abandonado. Em conseqüência disso, a população de animais nas praias aumenta consideravelmente. Sofrem os cães, que passam fome e sede, e a população, que fica suscetível a uma série de doenças.
Segundo uma das coordenadoras da ONG Associação Arca de Noé de Proteção aos Animais (Anoé), Volga Mirian da Silva, é grande o número de veranistas que escolhem o litoral para abandonar os bichos. Sobem a serra tranqüilos e deixam o problema para outros veranistas e para a população local.
O secretário do Meio Ambiente de Matinhos, Jubal Duarte, confirma a informação. Diz que a Prefeitura fez um estudo e constatou que, na cidade, existe um cão para cada 35 pessoas. Sabe-se que depois da temporada essa proporção aumenta, embora ele não saiba precisar quanto. "As pessoas acham que o bicho vai ficar bem porque tem bastante gente na temporada e não vai faltar comida. A consciência não fica pesada", afirma.
Mas não é bem isso o que acontece. Os animais correm o risco de ser atropelados. Depois do Carnaval, o fluxo de turistas diminui e a alimentação fica mais escassa. Os animais passam fome, sede, frio e sofrem com doenças – como a sarna. As pessoas também ficam suscetíveis a uma série de problemas, mesmo durante a temporada. Os animais têm acesso livre à areia da praia e disseminam várias patologias, como micoses e o bicho geográfico.
Jubal informa que a Prefeitura está implantando um projeto para o controle da natalidade através do uso de hormônios. A substância ainda está sendo testada, pois pode provocar reações colaterais, principalmente nos cães subnutridos. O trabalho pioneiro está sendo feito no bairro Tabuleiro, onde a quantidade de animais é maior do que em outras regiões da cidade.
Mas o secretário reconhece que Matinhos deveria ter um centro de controle de zoonoses. No entanto, diz que o investimento é muito alto e o município não tem condições de arcar com os custos. Existem propostas para a criação de um consórcio entre os municípios para a manutenção do centro. O governo do Estado entraria com recursos para a sua construção. Porém ainda não existe nada de concreto nesse sentido. "Todos os municípios do litoral enfrentam o problema", comenta Jubal.
A ONG Anoé também ajuda como pode. Cuida de 200 cães recolhidos na rua, muitos deles de raça e faz trabalhos de conscientização e castrações. Mas a coordenadora Volga reclama da falta de apoio tanto da população como do poder público. Segundo ela, a entidade gasta por mês 700 quilos de ração, 700 de quirera, além de remédios. Para Volga, a Prefeitura deveria assumir os trabalhos do canil. O secretário contesta a informação, alegando que a entidade vem recebendo ajuda da Prefeitura, embora não exista intenção de assumir o trabalho.
