Um vazamento de óleo combustível durante a operação de reabastecimento do navio panamenho Sardegna, agenciado pela empresa InterOcean e carregado com óleo de soja, atingiu ontem três ilhas do litoral paranaense. O óleo bunker (tipo de combustível dos navios) atingiu a Ilha das Cobras, Ilha da Cooatinga e Ilha da Paiaçaguara, na Baía de Paranaguá. O óleo também estava nas proximidades das ilhas São Miguel e do Amparo.
O acidente ocorreu por volta das 2h da madrugada, quando um barco da LM Serviços Técnicos Limitados – empresa terceirizada pela Transpetro, subsidiária da Petrobras – abastecia o navio panamenho. As causas do derramamento do óleo ainda estão sendo apuradas, mas os primeiros indícios apontam para um erro de cálculo durante o abastecimento. A embarcação estava a aproximadamente dois quilômetros da Ilha das Cobras, a primeira atingida pelo vazamento.
Segundo informações do comandante da embarcação, o navio estava sendo abastecido com 850 toneladas de óleo. No momento em que 775 toneladas já tinham sido encaminhadas, cerca de 900 litros vazaram para o convés. Desse total, 200 litros teriam sido derramados no mar.
A Capitania dos Portos informou que foi comunicada do acidente momentos depois do início do vazamento, deslocando uma equipe para ajudar nos trabalhos de contenção. A Capitania também informou que desde a manhã o produto despejado no mar já estava sob controle.
Volume maior
No entanto, durante a tarde, o secretário estadual do Meio Ambiente, Luiz Eduardo Cheida, sobrevoou a área atingida pelo vazamento e pôde constatar que o volume de óleo derramado pode ter sido muito maior. Cheida contou que os técnicos do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) que se deslocaram para o local não conseguiram quantificar o volume de óleo derramado. Os danos causados pelo derramamento também ainda não foram contabilizados.
Para o secretário, as conseqüências podem ser desastrosas por causa da demora em realizar a contenção do óleo. Ele informou que apesar de o acidente ter ocorrido por volta das 2h, somente às 5h30 o IAP foi avisado sobre o vazamento. “Trata-se de áreas de manguezais, repletas de vida marinha. Além de peixes e aves, a própria vegetação do mangue pode ser prejudicada. Até mesmo os mamíferos que vivem no local correm risco. Não sou técnico e não posso quantificar com exatidão o volume do vazamento, mas passando pelo local, percebe-se que a quantidade de óleo derramado foi enorme”, disse.
Cheida também afirmou que durante o sobrevôo, foi possível observar as pedras e pequenas praias das ilhas já com a coloração do óleo derramado. “Ainda não podemos afirmar nada com precisão, mas ao que parece foi erro de operação. E o que complicou a ação de contenção foi porque o abastecimento ocorreu durante a madrugada, não dando para se ter noção da dimensão do acidente”, destacou o secretário.
A Secretaria de Estado do Meio Ambiente deve abrir um processo administrativo para apurar o caso e formular um termo de reparação dos danos causados ao ambiente.
Secretário estuda resolução
O secretário do Meio Ambiente Luiz Eduardo Cheida alegou que aguarda documentação da empresa LM e da Transpetro, além do levantamento dos técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) e do IAP, para punir os culpados pelo acidente. As multas para crime ambiental podem variar de R$ 5 mil a R$ 50 milhões.
Cheida também adiantou que vai estudar a possibilidade, junto ao governo estadual, de criar uma resolução para proibir o abastecimento de navios no Porto de Paranaguá durante o período noturno. Segundo o secretário, se fosse durante o dia, o vazamento poderia ter sido descoberto em segundos.
A reportagem de O Estado entrou em contato com a empresa LM, mas não obteve resposta.
O último acidente envolvendo um navio na Baía de Paranaguá ocorreu em outubro de 2001. Na época, a embarcação Norma, de propriedade da Petrobras, bateu em uma pedra no fundo do mar e ficou encalhada vários dias no local. Cerca de 392 mil litros de nafta (derivado do petróleo) mancharam a Baía de Paranaguá. (RCJ)