Vazamento continua poluindo a Baía de Paranaguá

 Chuniti Kawamura / O Estado
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Uma bomba de sucção está tentando recolher o óleo que vaza do navio.

Quase uma semana depois da explosão do navio chileno Vicuña, em Paranaguá, o vazamento de óleo ainda não foi contido. A embarcação transportava 14 milhões de litros de metanol – 9 milhões chegaram a ser descarregados antes do acidente -, além de 1,2 mil toneladas de óleo combustível e 150 mil litros de óleo diesel. Equipes de mergulhadores identificaram que o material, apesar de ser em pequena quantidade, continua sendo liberado por fendas no casco do navio que surgiram devido ao acidente.

Uma bomba de sucção está trabalhando para tentar recolher o óleo. A dúvida é se o material também estaria saindo de outros tanques de óleo que estão submersos. O chefe regional do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) em Paranaguá, Sebastião Carvalho, diz que apesar do vazamento, os trabalhos de contenção estão melhorando. Ele sobrevoou as áreas atingidas e constatou que as manchas na água reduziram. Inclusive foi descartada – pelos menos por enquanto – a hipótese de o óleo atingir o litoral sul de São Paulo. "Na praia Deserta, que fica na divisa dos dois estados (Paraná e São Paulo) e onde tínhamos a informação de manchas, não foi confirmada a presença de óleo", falou Carvalho.

Apesar da redução o óleo na água, a situação mais preocupante é que o material estaria se depositando nas rochas e mangues. Sebastião Carvalho acrescenta que nos manguezais os trabalhos de limpeza serão difíceis, já que intervenção poderá representar maior dano a esse ecossistema. No início desta semana, o IAP deverá quantificar as regiões de mangue atingidas pelo acidente. O secretário de Meio Ambiente do Paraná, Luiz Eduardo Cheida, deverá baixar uma portaria proibindo a captura de caranguejos. Cheida também irá anunciar a decisão sobre o ingresso de uma ação coletiva por danos morais contra os responsáveis pelo acidente.

Mais multas

Pelo não cumprimento das metas de contenção e redução dos danos ambientais, as empresas Cattalini Terminais Marítimos (operadora do terminal), a P&I (seguradora da embarcação), a Wilson Sons (contratada como agência marítima), e a Sociedad Naviera Ultragas (proprietária da embarcação), vêm sendo multadas pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em R$ 250 mil diários cada uma desde quarta-feira. O valor já foi multiplicado por três, e as multas somam R$ 3 milhões. Na noite de sexta-feira, o Ibama também multou em R$ 250 mil a empresa Alpina, contratada para atuar na contenção do óleo. O superintendente do Ibama no Paraná, Marino Gonçalves, disse que esse será o posicionamento do órgão enquanto o trabalho não for satisfatório.

Até agora o Ibama já recolheu 23 animais, entre tartarugas, aves, caranguejos e botos, atingidos pelo acidente. Desse total, apenas três pássaros biguás estão vivos e passam por uma fase de recuperação. Os demais foram congelados e serão encaminhados para o Centro de Estudos do Mar, da Universidade Federal do Paraná, para análises.

Até o início da noite de ontem continuava sem identificação no Instituto Médico-Legal de Paranaguá o corpo da terceira vítima do acidente. Apenas parte de um homem foi localizada próximo ao navio encalhado. A viúva do argentino Alfredo Omar Vidal não conseguiu reconhecer o corpo. O IML já estava com uma ficha dentária de Vidal e aguardava um dentista para fazer a comparação com a arcada dentária da vítima. Segundo o relações públicas do Corpo de Bombeiros, tenente Eduardo Pinheiro, o corpo também pode ser da outra vítima da explosão, o chileno Ronald Peña Rios, que continua desaparecido. Não está descartada a possibilidade de o corpo estar entre as partes do navio submerso.

Tensão ronda comércio da Ilha do Mel

 Aliocha Maurício / O Estado
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Homens contratados pelo IAP trabalham na limpeza das praias.

A redução do número de visitantes e as reservas em pousadas que foram canceladas recentemente têm causado preocupação aos comerciantes e moradores da Ilha do Mel, no litoral do Estado. Eles acreditam que, por causa da grande divulgação sobre os danos causados pelo acidente com o navio chileno Vicuña, na última segunda-feira, os turistas estão deixando de procurar o local como destino para o começo da temporada de verão. Isso já teria refletido na queda de cerca de 80% do movimento que era esperado para essa época do ano.

A ponte oeste da Ilha e a Praia do Farol, que foram atingidas pela mancha de óleo que vazou do navio, estão sob os cuidados de técnicos do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e funcionários de uma empresa especializada em limpeza de meio ambiente desde terça-feira. Essa instituição foi terceirizada pelo IAP. Ontem à tarde, esses funcionários estavam finalizando os trabalhos na Praia do Farol. A ponta oeste ainda apresentava uma certa quantidade de óleo.

Segundo Carlos Gnata, presidente da Associação dos Comerciantes de Nova Brasília, uma das principais praias da Ilha, no momento a situação em relação ao óleo está controlada, com bastante voluntários colaborando no processo de limpeza dos locais. Ele acredita que para a alta temporada, todo o movimento normal deve retornar. "Por enquanto, é muita pouca gente freqüentando a Ilha", conta. Carlos também reclama que a não sabem da real situação do local. "É claro que o impacto foi grande, mas a situação está controlada. As pessoas podem voltar a organizar a viagem para cá", disse.

O comerciante Paulo Lins do Nascimento está a apenas dois meses na Ilha e administra uma lanchonete e uma casa de forró. Seriam lugares que estariam lotados neste final de semana, não fosse o desastre ambiental. "Isso comprometeu o movimento, mas acredito que aos poucos, essa imagem tende a desaparecer. Quem vier hoje na Ilha, vai verificar que o problema se isolou na ponta Oeste", ressaltou.

Nos terminais de embarque para Ilha do Mel, na cidade de Pontal do Paraná, o movimento também é pequeno. Segundo trabalhadores do terminal, algumas excursões que já estavam agendadas para o local, foram canceladas um dia após a divulgação do acidente. (Rubens Chueire Júnior)

IAP verifica balneabilidade de praias

O Instituto Ambiental do Paraná (IAP) inicia hoje a coleta de amostras da água das praias do Estado para divulgar um boletim sobre a balneabilidade. Ao todo serão 42 pontos de coleta, principalmente nos locais que já foram atingidos com o óleo que vazou do navio Vicuña – Ilha do Mel e Pontal do Sul.

Além da análise bacteriológica, serão feitos testes físico-químico para identificar a presença do óleo nas praias. De acordo com o chefe regional do IAP em Paranaguá, Sebastião Carvalho, o resultado da análise é feita através da média de três coletas, sempre feitas aos domingos, quando a freqüência de banhistas é maior.

A estimativa é que o primeiro boletim sobre a balneabilidade seja divulgado até dia 15 de dezembro. No entanto, o resultado sobre a presença de óleo na água deverá sair antes. "Todos os anos fazemos somente a análise bacteriológica para saber se as águas do litoral estão próprias para banho. Mas este ano, devido ao acidente, vamos ampliar as sondagens", comentou Carvalho.

O chefe do IAP comentou também que todos os resíduos que estão sendo retirados das praias e das baías -como plaquetas de óleo e galhos de árvores sujas com óleo – estão sendo depositados em um armazém cedido pelo Porto de Paranaguá. O local é coberto e possui piso impermeabilizado, que garante total isolamento do material. Em um segundo momento essa coleta será incinerada. (RO)

Pescadores fazem bicos para manter sustento

Todos os animais encontrados na Ilha do Mel foram encaminhados para Paranaguá, onde biólogos do Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) estão prestando o devido tratamento. Segundo os moradores da região, somente na terça-feira foram encontrados animais na Ilha, entre eles pequenas aves, alguns peixes e uma tartaruga.

A pesca está suspensa por tempo indeterminado. Com essa medida, os pescadores estão tendo que se virar com alguns bicos. Uns tentam trabalhar como guia turístico, outros oferecem serviços de camping nas proximidades de suas casas, mas todos tentando reforçar o orçamento. Acir Pereira, de 53 anos, é pescador há 25 anos e está sofrendo com a situação. "A dificuldade é grande, principalmente para quem sempre pescou", destacou. No seu caso, a alternativa foi oferecer lugar para acampamento em seu terreno.

Pedro dos Santos, de 33 anos, compartilha a mesma opinião, mas buscou outra forma de poder sustentar a família. Além da garantia de recebimento do seguro-desemprego durante o período em que a pesca está suspensa, ele vai trabalhar de guia turístico. Conhecendo toda a região, ele acredita que pode aumentam sua renda. "Já estou pondo em prática essa idéia. Ficar só com o seguro-desemprego não dá, é muito pouco. Quando pescava, conseguia tirar entre R$ 400 a R$ 500 por mês", afirmou. (RCJ)

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