Vandalismo compromete arte a céu aberto

Localizada entre as ruas Barão do Serro Azul e Riachuelo, a Praça 19 de Dezembro, mais conhecida como ?praça do homem nu?, é um importante marco histórico não só de Curitiba, mas de todo Paraná. Sua denominação e as próprias esculturas que abriga lembram a emancipação política do Estado, ocorrida em 19 de dezembro de 1853.

No local, há muito tempo, funcionava um grande mercado que abastecia boa parte da cidade. O local era composto por uma muralha de pedra, com escadas de concreto e corrimão de ferro. Inicialmente, a praça foi construída aproveitando-se os restos do velho estabelecimento. Porém, o que se vê hoje é bastante diferente.

Chama a atenção de quem passa pelo local uma grande estátua de um homem nu, de onde vem a denominação popular da praça, e outra, um pouco menor, de uma mulher nua. O homem, feito de concreto pelo paranaense Erbo Stenzel (1911-1980), possui sete metros de altura e foi construído como forma de homenagear o trabalhador paranaense. Já a mulher, de autoria do paulista Humberto Cozzo (1900-1981), originalmente estava localizada nos fundos do Palácio Iguaçu, no Centro Cívico, sendo levada à praça com o objetivo de representar a Justiça.

Também podem ser vistos no local um obelisco erigido no ano de 1953, em comemoração ao centenário da emancipação política, que foi inaugurado pelo então governador Bento Munhoz da Rocha Netto; um painel em granito, também de autoria de Erbo Stenzel, que representa os ciclos econômicos do Paraná; um chafariz; e um painel elaborado em azulejos pelo artista curitibano Napoleão Potyguara Lazzarotto, mais conhecido como Poty Lazzarotto (1924-1988). Esta obra representa a evolução política e a revolução sócioeconômica do Estado.

Pichações

Os monumentos são verdadeiras obras de arte a céu aberto, que podem ser admiradas gratuitamente por quem passa pela praça. Porém, a beleza dos monumentos é constantemente comprometida e ameaçada pelo vandalismo, cujos autores promovem ações de pichação. Em fevereiro deste ano, a Prefeitura, através da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e em parceria com a Associação dos Restauradores e Conservadores dos Bens Culturais, promoveu um grande trabalho de limpeza, supervisionado por integrantes da Fundação Cultural.

O trabalho, tido como parte do programa Marco Zero, lançado pelo pre-feito Beto Richa, foi realizado com a utilização de um solvente à base de acetona, capaz de derreter com eficiência a tinta utilizada nas pichações, considerado biodegradável e aprovado tanto por restauradores quanto por ambientalistas. Porém, apesar de todo o esforço, dias após o serviço ser concluído os monumentos apareceram pichados novamente.

?O que aconteceu foi lamentável, pois o trabalho de despiche é considerado complexo e quem arca com os custos da limpeza é a população. A pichação, além de estragar as obras de arte e comprometer a parte histórica, deixa a cidade feia. A Secretaria Municipal do Meio Ambiente está estudando uma nova forma de resolver o problema na Praça 19 de Dezembro. Porém, o que estamos fazendo por enquanto é manter agentes da Guarda Municipal no local no período da noite, com a intenção de coibir a ação dos pichadores?, comenta o secretário municipal de Defesa Social, coronel Itamar dos Santos.

Ninguém freqüenta mais o local em busca de lazer

A presença da Guarda Municipal parece não estar sendo suficiente para acabar com a violência na 19 de Dezembro. Comerciantes que atuam no entorno da praça confirmam que carros da Guarda e agentes da Polícia Militar são vistos circulando pela região. Porém, também afirmam que furtos a pedestres, consumo de drogas e prostituição fazem parte do cotidiano do local.

Já há bastante tempo é difícil encontrar pessoas freqüentando a praça em busca de lazer e descanso. Na maioria das vezes, o que se vê nos bancos, gramados e pés dos monumentos são pessoas embriagadas dormindo ou moradores de rua desocupados pedindo esmolas aos transeuntes.

?Chego para trabalhar às 8h30 e me deparo com uma série de pessoas dormindo ao relento. Sem ter o que fazer, elas são vistas bebendo e, às vezes, fumando maconha em plena luz do dia. O problema é que isso espanta as pessoas da praça e, consequentemente, os clientes dos estabelecimentos comerciais?, diz o feirante Divonzir Stresser, que há dez anos vende frutas e verduras na 19.

O taxista Ademir Oliveira, que trabalha há um ano ao lado da praça, conta já ter presenciado de tudo, desde brigas até prostituição. Ele conta que tem medo de ficar parado sozinho com seu carro no local. ?Nos finais de semana, trabalho durante a madrugada e tenho que ficar esperto. Nós, taxistas, combinamos de ficar sempre juntos e desta forma procuramos proteger uns aos outros. Sozinho, eu não teria coragem de trabalhar, pois os riscos são grandes.?

A suspeita é de que os desocupados sejam os autores de pequenos furtos que ocorrem em estabelecimentos instalados ao longo da praça. O advogado Alessandro Mestriner Felipe possui um escritório no local e conta que já foi roubado diversas vezes. ?Acredito que as pessoas que ficam na praça acabam observando a rotina de quem trabalha nos arredores. Do meu escritório já foram levados letreiros de bronze, a bolsa da secretária e um cheque. Não dá para deixar a recepção sem ninguém?, afirma.

PM

Na opinião do subcomandante do 12.º Batalhão da PM, major Flávio José Correia, o que falta para melhorar a situação na praça é uma maior interação entre comunidade e polícia. De acordo com ele, este ano foram registradas apenas três ocorrências na 19 de Dezembro, o que indica um ambiente relativamente tranqüilo. ?O que ocorre é que a população muitas vezes não denuncia o que acontece. Desta forma, não podemos ter uma idéia precisa da realidade do local?, declara. ?A praça é de responsabilidade da primeira companhia do 12.º Batalhão, que funciona dentro do Passeio Público. Em todo centro da cidade, atuam policiais de motocicleta (quatro no período da manhã e dez no da tarde) e policiais velados.? (CV)

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