Pelo menos três mil pessoas, entre gays, lésbicas, travestis e simpatizantes, estão sendo esperadas hoje na Praça Santos Andrade, em Curitiba, para a tradicional Parada Gay. A concentração será às 14h, em frente ao prédio da Universidade Federal do Paraná. A partir das 16h, o grupo seguirá rumo à Boca Maldita, onde estão programadas apresentações de drag queens, além de demonstrações dos trabalhos que vêm sendo realizados junto à Secretaria Estadual de Saúde, Coordenação Estadual DST/Aids e Ministério da Saúde. Em sua quinta edição, a Parada Gay de Curitiba traz como tema “Pelo respeito à diversidade…”.
O presidente do Inpar (Instituto Paranaense 28 de Junho), Roberto Kaiser, conta que o número de participantes vem aumentando a cada ano. Na primeira Parada, lembra ele, foram apenas cinqüenta pessoas. No ano seguinte passou para 120, em outro, trezentas. No ano passado, a participação foi de quase 2 mil pessoas. “Tem muita gente ‘saindo do armário'”, aponta, referindo-se ao aumento do número de participantes. Segundo ele, apesar do preconceito, muitos estão deixando de ter vergonha de assumir a homossexualidade. “Sou de uma geração que colocou ‘a cara à tapa’. Alguns só assumem agora, porque sabem que o caminho já foi aberto.”
Preconceitos
O preconceito, revela ele, ainda é uma das principais barreiras a serem vencidas. “Através da educação é que vamos conseguir vencer o preconceito, porque é o adulto quem faz a cabeça da criança. Os pais têm que saber que, se a criança não tem tendência homossexual, não vai virar gay apenas brincando com um coleguinha do mesmo sexo.” Outro obstáculo, segundo Kaiser, é a questão da união civil entre homossexuais, cujo projeto está “engavetado” há quase sete anos. “É um absurdo a atitude do (presidente) Fernando Henrique Cardoso dizer que é a favor da união civil justamente agora, meses antes das eleições”, criticou. E reforçou: “A gente não quer casar na igreja, mas apenas a união civil. Muita gente não entende isso.”
Casado
Com 42 anos de idade, o ex-bancário gaúcho Roberto Kaiser sabe bem o que é enfrentar o preconceito. Principalmente quando os próprios homossexuais não aceitam essa condição. “Eu sabia que era gay, mas não aceitava, vivia em conflito comigo mesmo”, conta. Aos 28 anos, eles se casou. Hoje tem três filhas: uma de 19 anos, outra de 14 anos e a terceira de 12. “Você tenta se enquadrar na sociedade, mesmo não sendo aquilo que é. Foi o que fiz”, lembra-se. Depois de quase sete anos de união, o casal se separou, sem a esposa sequer saber que Kaiser era gay. “Acho que ela nunca soube. Minhas filhas também não sabem”, conta.
Quando ele se mudou para Curitiba, há cerca de oito anos, foi quando assumiu a homossexualidade. “Longe da família e de todos, foi mais fácil.”, explica. E diz não se arrepender: “Sou muito mais feliz hoje. Mas acredito que ninguém tem obrigação de se expor. Se quiser assumir, assume. Senão, é melhor manter em sigilo.” Kaiser lamenta apenas a falta de apoio e informação da família e da Igreja. “Queremos respeito à diversidade sexual. Mesmo porque não se trata de uma opção, mas uma orientação.