Virou rotina: uma longa fila no subsolo da 2.ª regional da Secretaria Estadual de Saúde, no centro de Curitiba, tem se formado todos os dias e chamado a atenção de quem passa pelo local. São usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), que procuram a Farmácia Especial em busca de medicamentos caros e essenciais para sua sobrevivência. A demora chega a quase seis horas, segundo a própria Secretaria Estadual de Saúde, e angustia especialmente os idosos e aqueles que estão em cadeiras de rodas.
“Venho todo mês e é sempre assim”, lamentou a aposentada Nilma Fátima Pinheiro, 28, que se submeteu a um transplante de rins há um ano. “Já cheguei a ficar cinco horas na fila”, revelou. Segundo ela, há poucas pessoas atendendo e “falta boa vontade dos funcionários”. Um dos medicamentos que Nilma utiliza, conta, custa mais de R$ 1 mil.
O vendedor gráfico Mauro Vicentino, 48, também enfrenta a fila periodicamente: vai buscar medicamento para o pai, que faz hemodiálise. “Já estou há quatro horas na fila, e a minha senha ainda está longe. Normalmente é assim”, comentou. Para ele, o que falta é espaço e informatização. “Os funcionários têm que conferir todos os papéis, os medicamentos, tudo manualmente. Isso demora muito.” Para o vendedor, o grande culpado é o governo. “O governo tem se preocupado com tanta coisa, mas a saúde continua precária”, lamentou.
A técnica em enfermagem Inês Heckler, 36, conta que enfrenta a situação há nove anos, desde que foi submetida a um transplante de rins. “No início, a fila não era tão grande assim. Mas agora, chego a ficar quatro horas ou mais esperando”, revelou. Na última segunda-feira, ela foi até a 2.ª regional: esperou durante duas horas e foi embora. “O pior é que eu tenho que tomar o remédio todos os dias, duas vezes ao dia. Na terça-feira, tive que pedir um emprestado para o médico. A gente se sente até humilhada em enfrentar tudo isso.” Inês é obrigada a enfrentar a fila do SUS porque o medicamento que administra é muito caro: há um ano, conta, custava R$ 600,00. “O ruim é ficar esperando, mas pelo menos o meu remédio nunca esteve em falta aqui”, falou.
Aumenta o número de pacientes
O chefe de gabinete da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), Gleden Teixeira Prates, admitiu que “a crítica das pessoas é procedente”, mas afirmou que a secretaria vem desde o início do ano tentando amenizar a situação. “A fila para receber medicamentos já existe há anos, não é nenhuma novidade. O problema é que nos últimos tempos, aumentou o número de pacientes e a oferta de medicamentos por parte do Ministério da Saúde”, explicou. Segundo ele, há quase 200 medicamentos ofertados gratuitamente para várias enfermidades, desde asma até doenças degenerativas, neurológicas, hepáticas, transplantados em geral.
Segundo Prates, na primeira quinzena do mês, a Farmácia Especial recebe quase 300 pacientes por dia; na segunda quinzena, 200. O tempo de espera, afirmou, chega a quase seis horas.
Sobre o número de funcionários, Prates afirmou que há dezesseis, atendendo não apenas no balcão, mas fazendo o cadastro dos pacientes e conferindo os medicamentos. “É o mesmo número de funcionários há muitos anos. Precisa haver um concurso público.”
Sobre o espaço disponível – a sala de espera atual tem lugar para apenas 20 pessoas sentadas -, Prates informou que a farmácia vai ocupar novo local, provavelmente a partir da semana que vem, com sala de espera com capacidade para 350 pessoas, ventilada e com água. “Vamos tentar viabilizar a melhora no fluxo e na distribuição de medicamentos”, prometeu.
