Após os transtornos da última greve parcial de motoristas e cobradores, que paralisou linhas urbanas de nove das onze empresas de ônibus de Curitiba, durante três dias da semana passada, Urbs, trabalhadores e sindicato patronal estão reunidos em audiência conciliatória no Tribunal Regional de Trabalho (TRT).
O objetivo é tentar resolver os impasses entre os envolvidos, para garantir que motoristas e cobradores recebam seus salários em dia e afastem a possibilidade de novas greves motivadas por atrasos nos vencimentos.
Fique ligado!
Reajuste salarial
Também é discutido o reajuste nos salários dos cerca de 15 mil trabalhadores da categoria, cuja data-base é em 1º de fevereiro. A definição do reajuste impacta diretamente no valor da tarifa técnica e no valor pago pelos usuários do transporte. Estão ainda na pauta as multas que os sindicatos podem ter que pagar por descumprirem suas obrigações na última greve.
“Nosso objetivo prioritário é o pagamento dos funcionários. Dia 20 está aí e ainda não sabemos se vai ter ou não o pagamento. Queremos regularizar esta situação, mas temos um indicativo de greve em aberto. Se os valores não forem depositados, entramos em greve”, diz o presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de ânibus de Curitiba e Região (Sindimoc) Anderson Teixeira.
Ele reforça que evitar novas paralisações é essencial, para não desgastar mais os trabalhadores e a população. “O atraso nos pagamentos é uma forma cruel de pressão feita pelos empresários, que certamente têm como objetivo o aumento das tarifas. Esperamos não ter que fazer uma nova paralisação este mês”. Pra Urbanização de Curitiba S/A (Urbs), resolver a questão dos salários dos motoristas e cobradores é o primeiro passo a ser dado, pra depois discutir valores da nova tarifa técnica e da tarifa cobrada dos usuários. Já o Sindicato das Empresas de Transporte Urbano e Metropolitano de Passageiros de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp) não quis se pronunciar sobre a pauta da audiência.
Pra professor da UFPR, prefeitura deveria adotar uma frota pública. |
“Rompimento necessário”
Na análise do professor da UFPR e membro da Plenária Popular do Transporte, Lafaiete Neves, não há outra solução para o problema a não ser o rompimento dos contratos atuais. A possibilidade foi cogitada na semana passada por empresários e Urbs, mas ontem nenhuma das partes quis comentar a questão.
“Desde 2013 alertamos a prefeitura sobre as irregularidades nos contratos e na maneira como são executados. Os problemas foram apontados por quatro relatórios, feitos pela Urbs, pela CPI do Transporte Coletivo, Tribunal Contas do Estado do Paraná (TCE) e pelos sindicatos na Plenária Popular do Transporte. A prefeitura deveria romper com as empresas, que já quebraram os contratos diversas vezes, em situações como as mais recentes, em que atrasaram os salários de seus funcionários”, opina Neves.
Para o professor, o ideal seria que a prefeitura de Curitiba adotasse uma frota pública, acabando com os subsídios e principalmente, com os adiantamentos nos repasses. “O prefeito tem munição para enfrentar as empresas sem medo das indenizações. Depois do rompimento dos contratos, ele deveria comprar cerca de 100 ônibus, a um custo médio de R$ 600 mil cada, que poderiam ser financiados pelos bancos, sendo mais econômico e vantajoso do que os repasses mensais às empresas.
Esta frota pública garantia o servi,ço e evitaria novas greves. Isto foi feito em 1987, pelo prefeito Roberto Requião, que, em seu mandato, não presenciou greves no sistema de transporte de Curitiba”, defende.