Universitários são mais suscetíveis às drogas

O tempo na universidade é de descobertas, de preparação profissional, de início da vida adulta. Mas também pode ser o tempo de ingerir bebidas alcóolicas, fumar e consumir drogas. O número de jovens universitários que encontram essa rotina além dos estudos preocupa. O assunto é tão sério que a Secretaria Nacional Antidrogas vai realizar, em 2009, o I Levantamento Nacional Sobre o Uso de Álcool, Tabaco e outras Drogas entre Universitários. Até hoje, foram feitas somente pesquisas isoladas sobre o assunto.

A última delas, divulgada recentemente, aconteceu na Universidade Federal do Espírito Santo. O Núcleo de Estudos sobre Álcool e outras Drogas do Centro de Ciências da Saúde da universidade acompanhou uma amostra de 148 estudantes matriculados nos nove períodos do curso de farmácia.

No ano anterior ao do levantamento, 77,7% dos universitários ingeriram álcool e 12,2% consumiram tabaco. No mês anterior à pesquisa, 58,1% tomaram bebibas alcóolicas e 5,5% fumaram. Quando avaliado o uso freqüente (mais de seis vezes em um mês) ou pesado (20 vezes ou mais em um mês), o consumo de álcool foi de 18,2% e 8,1%, respectivamente.

Entre as drogas ilícitas, ou seja, proibidas, as mais prevalentes foram os ansiolíticos, a maconha e as anfetaminas. Os dados do levantamento da Universidade Federal do Espírito Santo estão em um artigo publicado na última edição do Jornal Brasileiro de Psquiatria. Os universitários são considerados uma população de risco.

Um dos motivos para isto é a transição para uma vida adulta, segundo o médico psiquiatra Arthur Guerra, coordenador do programa de Prevenção de Drogas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e que estará à frente do levantamento da Secretaria Nacional Antidrogas no ano que vem. “São jovens que acabaram de sair da adolescência e agora possuem outro status. E todo o mundo se abre de maneira atraente. São novas emoções, novos relacionamentos e também o contato com as drogas”, comenta.

A professora Araci Asinelli da Luz, doutora em Educação e professora dessa área na Universidade Federal do Paraná, lembra que a universidade é o passe livre para uma nova fase. “A vigilância dos pais que acontecia na escola já não se aplica na universidade. Muitos estudantes também saem para morar sozinhos. A nova vida pode gerar ainda ansiedade e a necessdade de integração dentro de um grupo”, afirma.

Além disso, a situação é preocupante porque os universitários estão sendo preparados para desempenhar, futuramente, funções importantes na sociedade. “Se não houver cuidado, pode-se criar uma geração muito permeada pelas drogas”, alerta Guerra. “Os jovens que usam drogas também podem se colocar em situações de risco, como sexo desprotegido ou acidentes. E o pior de tudo é que podem se tornar dependentes”, conta.

Responsabilidade dividida

Arquivo
“São jovens que acabaram de sair da adolescência e agora possuem outro status.” Arthur Guerra, coordenador do programa de prevenção de drogas da USP.

O consumo das drogas lícitas e ilícitas normalmente é feito fora dos campi das universidades ou faculdades. Mas as instituições são ou não responsáveis em combater o uso entre os estudantes? “As universidades também têm sua parcela do dever porque possuem um papel muito importante, tanto na prevenção quanto em não permitir o uso nos campi e também no tratamento”, acredita o psiquiatra Arthur Guerra. A professora Araci Asinelli da Luz esclarece que a legislação antiga sobre entorpecentes no País trazia a obrigatoriedade para todas as instituiç,ões de ensino em desenvolver um programa de prevenção do uso de drogas dentro e nos arredores de seus espaços.

Atualmente, essa questão é tratada de maneira genérica. Em Curitiba, uma lei municipal determina a distância mínima de 200 metros entre bares e instituições de ensino. No entanto, pode-se perceber facilmente que isto não é cumprido em diversos locais. “Se tivéssemos uma fiscalização rígida, todos esses bares seriam retirados de perto das universidades. Outra situação que merece muito cuidado é o consumo de bebidas e drogas nos centros acadêmicos, que ficam dentro das universidades”, classifica.

Cursos de saúde

O consumo de álcool, tabaco e outras drogas pode causar um alerta ainda maior quando se verifica os altos índices entre estudantes de cursos da área da Saúde, como Medicina, Odontologia e Farmácia. “O fato de conhecer os problemas e suas conseqüências não é uma vacina. Entre as áreas de biológicas, exatas e humanas, a biológica é a com mais universitários usando drogas”, indica Arthur Guerra. Essa população específica sofre com cobranças, lida com a morte e também tem um acesso facilitado a alguns tipos de drogas, como os medicamentos.

“Pessoas dessa área, pelo domínio do conhecimento, pode achar que podem controlar o uso dos medicamentos e dos seus efeitos. E ainda podem pensar: “se eu uso, acho que não tem tanto problema em recei tar para outras pessoas”. Existem casos de dependência medicamentosa e de pessoas que começaram com os remédios, que são drogas legais, e passaram para outras substâncias”, afirma a professora Araci Asinelli da Luz, da Universidade Federal do Paraná.

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