A inauguração de uma unidade do projeto Piá Ambiental, em setembro de 1992, foi comemorada como uma conquista pela população do Jardim Ipê, em Santa Felicidade. Por quase vinte anos, o local foi um espaço de educação e lazer para as crianças do bairro, mas a situação mudou há cerca de oito meses. Abandonado pela prefeitura, o lugar foi invadido por mato, lixo, animais de rua e usuários de droga.
O pedreiro Francisco Paixão Ferreira, 56 anos, viu de perto as transformações no terreno, que fica bem ao lado de sua casa. “Eu moro aqui há 32 anos. Antes, plantava minha horta aqui. Verduras, mandioca, batata… Mas gostei muito quando construíram o Piá Ambiental. Era uma melhoria para a comunidade e todo mundo apoiou”, recorda.
Seu Chicão, como é conhecido pelos amigos e vizinhos, conta que botou a mão na massa para ajudar na construção do prédio. “Trabalhei como pedreiro e guardião, em troca de uma cesta básica. Fui eu quem fiz este piso e cuidei dos materiais durante a obra. Era um trabalho voluntário, mas eu assinava o ponto. Alguém deve ter ganhado algum dinheiro com isso”, afirma.
Mesmo assim, o pedreiro acredita que o esforço valeu a pena. “Dava gosto de ver isso aqui. Era tudo limpo, bonito, cheio de crianças, que vinham no contraturno das aulas. É triste ver como está hoje, porque é uma obra feita com o dinheiro do povo que está abandonada e sendo destruída”, lamenta.
Portas e portão arrombados e janelas quebradas são os primeiros sinais de depredação vistos por quem passa por ali. No meio do mato que toma conta do terreno, ainda é possível ver a placa de inauguração do Piá Ambiental Senador Rubens de Mello Braga, com o nome do então prefeito Jaime Lerner.
Dentro do prédio, os banheiros e móveis que sobraram estão parcialmente destruídos. No meio do lixo espalhado pelo chão, os Caçadores de Notícias encontraram restos de brinquedos, contas de água vendidas há mais de oito meses e até o crânio de um animal, aparentemente um gato. “Isso aqui virou um local perigoso, um risco para as crianças, que podem pegar alguma doença”, diz Chicão.
Ele conta que a associação de moradores vem conversando com a prefeitura desde o ano passado. “Eles diziam que estavam estudando o que fazer, mas não fizeram nada. Agora, com o novo prefeito, esperamos que as coisas mudem. Já falamos com ele também, que prometeu que vai tomar providências, mas está demorando”, cobra o morador.
Revitalização em estudos
Segundo a prefeitura, o prédio do antigo Piá Senador Rubens de Melo Braga “trata-se de um espaço que nos últimos anos teve o acompanhamento de diferentes secretarias municipais”. “Entre os atendimento já realizados serviu como espaço de contraturno escolar. O atendimento feito anteriormente às 110 crianças no período contrário ao da escola foi mantido, mas desde o ano passado acontece na Escola Municipal Foz do Iguaçu”, esclarece a Secretaria Municipal de Educação. Junto com o Ippuc, a pasta está fazendo uma avaliação “para definir como o espaço pode ser revitalizado e direcionado para o melhor aproveitamento da comunidade”. A prefeitura promete executar o serviço de limpeza e poda da vegetação local na próxima quarta-feira.
Marco Charneski |
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Contas de água vencidas e até crânio de animal estão no local. |
Marco Charneski |
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Chicão: dava gosto de ver isso aqui. É triste ver como está. |
Marco Charneski |
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Campo de futebol está tomado pelo mato. |