Foto: Chuniti Kawamura/O Estado |
Sala de recursos do Instituto de Educação: estímulo aos relacionamentos interpessoais. continua após a publicidade |
Com 13 anos de idade, Alessandra Gosch tinha depressão, síndrome do pânico e fobia social. Ela tomava antidepressivos e chegou a ficar três meses afastada da escola devido às doenças. As características pareciam típicas de uma adolescente problemática. No entanto, tinham uma causa que a mãe de Alessandra, Keila Costa Gosch, nunca desconfiou: a superdotação. Isso é o que acontece com muitas crianças muitas vezes tidas como problemáticas e anti-sociais, mas que na verdade não têm espaço para desenvolver seu potencial.
A superdotação de Alessandra, que hoje tem 15 anos, só foi descoberta quando suas duas irmãs, as gêmeas de 11 anos, Gabriela e Flávia, foram identificadas na escola como superdotadas. Uma pesquisa feita por professores descobriu o potencial das duas meninas e recomendou que elas participassem da sala de recurso especiais promovida pela escola estadual Instituto de Educação do Paraná. Foi quando Keila contou sobre Alessandra. ?Ela sempre leu muito e sempre falou bem. Quando começou a participar do grupo ela mudou. Já parou com a medicação e hoje se relaciona bem, tem amigos. É como se ela tivesse mais interesse pela vida?, explicou a mãe.
?A grande dificuldade dessas crianças é nas relações interpessoais. Elas têm rapidez de raciocínio, são questionadoras, tem dificuldade de integração. Para elas muitos dos temas estudados são chatos e daí se desinteressam?, explicou a doutora em psicologia cognitiva e uma das coordenadoras do Programa de Atendimento à Crianças com Altas Habilidades da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Elizabeth Carvalho da Veiga. Por isso, ressaltou, é importante que elas possam ter um acompanhamento psicológico e a chance de desenvolver as suas habilidades.
A psicologa explica que o tema altas habilidades deve ser incluído junto com à superdotação porque há comprovação científica que os superdotados podem desenvolver habilidades acima do normal em algumas áreas: acadêmica e lógica, musical, espacial (como para o teatro ou fotografia, por exemplo), corporal-sinestésica, intrapessoal, interpessoal, naturalista (capacidade de classificar a flora e a fauna), lingüística e lógica matemática. O Programa da PUC-PR identifica as pessoas com estas habilidades. E muitas delas são encaminhadas para a sala de recursos do Instituto de Educação.
Atividades bem diversificadas
?Fora daqui as crianças são rotuladas, ditas problemáticas. A grande maioria sente apoio aqui, auto-estima é valorizada. A participação dos pais é bem grande?, contou a coordenadora do projeto da sala de recursos do Instituto de Educação, Paula Mitsuyo Sakaguti. Lá há grupos de observadores de pássaros, oficinas de xadrez, de literatura, de RPG (espécie de jogo de estratégia), dois grupos onde se trabalha as relações interpessoais, e uma vez por semana tem cursos de minibiologia em uma universidade. Em breve devem começar as oficinas de música. Paula explica que os alunos que participam da sala de recursos conseguem desenvolver uma boa relação social na escola e têm espaço para desenvolver as suas habilidades. Com 13 anos, Fernando Henrique Moreira faz estágio no núcleo de pesquisa sobra aranhas-marrons da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). ?E eu quero seguir na profissão?, revelou. ?O que eu mais gosto de estudar é matemática. Eu não gosto de história, mas eu sempre tiro 100?, relatou Jason da Silva Quevedo, 9 anos, que pega ônibus sozinho em Piraquara para participar da sala de recursos em Curitiba. (AB)
Associação busca inclusão
Para tentar ampliar a educação inclusiva para as crianças com superdotação, diversos pais se uniram e fundaram no último dia 21 a Associação Curitibana de Apoio à Superdotação/Altas Habilidades (Acasah). ?Quem tem altas habilidades precisa ter educação inclusiva e não especial. E isso não tem classe social e, às vezes, algumas famílias têm dificuldades para ter acesso?, explicou a candidata a presidente da Acasah, Jane Sprenger Bodnar, que tem uma filha de 13 anos com superdotação.
A associação, que teve a logomarca desenhada pelas crianças da sala de recursos do Instituto de Educação, pretende oferecer cursos e palestras relacionadas às altas habilidades, orientação aos pais, às escolas e aos professores e fomentar pesquisas científicas na área. Com isso, explicou Jane, será possível ?conscientizar as pessoas e informar a sociedade para o reconhecimento das questões relativas às altas habilidades?. (AB)