Movimento negro da capital colocou faixa na entrada da Universidade.

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A Universidade Federal do Paraná (UFPR) começou a ouvir ontem os candidatos aprovados dentro das cotas raciais e que disputaram 20% das vagas ofertadas no vestibular da instituição para negros e afrodescendentes. Setenta e sete candidatos passaram por entrevista com uma comissão de julgamento, composta por servidores e representantes de movimentos negros. As entrevistas foram realizadas durante todo o dia de ontem e seguem na segunda-feira. O resultado final será divulgado na terça-feira.

A diretora do núcleo de acompanhamento acadêmico da Pró-Reitoria de Graduação UFPR, Rosana de Albuquerque Sá Brito, explicou que 483 candidatos aprovados – pelas cotas e chamada geral – tiveram problemas na documentação. Desse total, 122 eram cotistas raciais e, na grande maioria dos casos, a comissão vestibular ficou com dúvidas em relação a auto-declaração que eles assinaram na hora da inscrição. Segundo ela, houve muitas confusões em relação ao fenótipo (aparência) e genótipo (ascendência), além de alguns terem se declarado negros, sendo que na certidão de nascimento constava branco.

Só serão ouvidos pela comissão os 106 candidatos que apresentaram recurso junto à universidade até o dia 17 de fevereiro. A entrevista, comenta a procuradora geral da UFPR – e integrante da comissão julgadora -, Dora Lúcia de Lima Bertúlio, serve para fazer um contraponto entre o que foi declarado pelo candidato e sua real comprovação. ?O programa de cotas é para aqueles que sofrem discriminação pela sua cor, e não basta dizer apenas que é ou não negro?, comentou.

Para a diretora Rosana Brito, a grande surpresa em relação aos problemas dos cotistas foi o grande número de pessoas brancas que tentaram ingressar na universidade disputando as vagas para negros. Rosana ressaltou que a comissão de julgamento será bastante rigorosa em tratar o assunto. ?O Conselho Universitário irá avaliar anualmente a questão das cotas, e se ocorrer algum erro, o sistema poderá ser suspenso?, disse.

Discriminação

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Para muitos candidatos que passaram pela entrevista,  o processo foi discriminatório. A candidata aprovada em Medicina, Yasmin Andrade, disse que se sentiu frustrada em ter que provar a afrodescendência. ?É difícil enfrentar tudo isso, pois eu assinei um documento que sou negra e ainda preciso provar?, reclamou. Filha de pai negro e mãe branca, Yasmin trouxe fotos da família para comprovar sua descendência. Depois da entrevista, a candidata saiu otimista, e disse que vai esperar o resultado, e que se ele for contrário, não descarta a possibilidade de ingressar com uma ação na Justiça.

Aprovado em Administração, o candidato Gustavo Portes achou uma injustiça ter que passar por essa avaliação. ?Eles propõem as cotas para promover uma integração, e agora temos que passar por tudo isso. Já declarei que sou pardo e acho um descaso?, falou. Gustavo não trouxe qualquer documento para a entrevista, e espera convencer a comissão com seus argumentos.

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