Críticas feitas pelo ministro da Educação, Cristovam Buarque, ao atual modelo educacional brasileiro estão gerando polêmica entre educadores, estudantes e profissionais de diversas áreas do País. Há alguns dias, o ministro declarou que nas universidades públicas estudam de graça os jovens de classe alta, enquanto os mais carentes acabam excluídos do sistema. Acusou as universidades de não se preocuparem com o social e a elite de estudar apenas para ficar ainda mais rica com o diploma.
Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), parte do que foi declarado pelo ministro se comprova. Entre os aprovados no concurso vestibular 2003, 72% são filhos de pais que possuem casa própria, 52% têm renda familiar superior a R$ 2 mil, 55% nunca trabalharam e 38,5% estudaram a vida toda em escola privada. O que parece mais preocupante: apenas 1% dos aprovados é de negros e 20% fizeram todos os seus estudos em escolas públicas.
Na opinião do reitor da UFPR, Carlos Augusto Moreira Júnior, não se pode generalizar. Segundo ele, existem cursos elitizados, como Medicina e Direito, cuja maioria dos aprovados cursaram escolas particulares consideradas caras desde o primeiro ano do ensino fundamental. Porém muitos cursos são homogêneos, reunindo estudantes de diversas rendas e classes sociais.”A Federal não é procurada apenas porque oferece estudo gratuito, mas porque oferece formação de qualidade. Atrai pessoas de diferentes classes sociais.”
Entretanto, Carlos Augusto concorda que devem ser criadas alternativas para permitir que populações mais carentes tenham maior acesso ao ensino superior gratuito. Ele conta que, desde o início deste ano, o Processo de Ocupação de Vagas Remanescentes (Provar) tem sido uma destas alternativas mantidas pela UFPR. No total, 976 pessoas já foram beneficiadas pelo sistema.
“O Provar é destinado a alunos da própria universidade que buscam remanejamento de curso, a alunos de universidades particulares que querem terminar um curso em uma universidade pública e pessoas que já completaram ou abandonaram um curso superior”, explica. Dos 976 estudantes, quinhentos eram alunos de faculdades e universidades privadas que buscaram a transferência. Na maioria das vezes, por não conseguirem mais arcar com as mensalidades de seus cursos.
No momento, a UFPR também estuda a possibilidade de adotar cotas para negros e estudantes de escolas públicas em todos os seus cursos. Há a possibilidade de as cotas já serem disponibilizadas no concurso vestibular 2004. “Além das cotas, estamos estudando programas de voluntariado voltados a ex-alunos e ex-professores da UFPR”, conta. “Algumas atividades já estão sendo postas em prática, contribuindo para que, depois de formados, os estudantes não prestem atendimento apenas a um público elitizado e se preocupem com o social.”
Nova forma de divulgação
A UFPR deve modificar a forma de divulgação dos resultados do vestibular a partir do próximo concurso, que terá provas entre os dias 14 e 16 de dezembro. Diferentemente do que sempre ocorreu, os nomes de todos os aprovados não serão divulgados no prédio da reitoria, em Curitiba, mas nos diversos campus da universidade. Assim, a relação dos aprovados nos cursos de Saúde será divulgada no setor de saúde, a dos aprovados da área de Tecnologia no Centro Politécnico e assim por diante. O objetivo, segundo o reitor Carlos Augusto Moreira Junior, é evitar confusão e tumulto. “Todos os anos, cerca de dez mil pessoas se aglomeram no pátio da reitoria para esperar o resultado, entre elas idosos e crianças pequenas. Quero acabar com isso antes que alguém possa sair gravemente ferido da confusão”, declara.