Integrantes da ABPF recuperam a ferrovia que liga Antonina a Morretes. |
Por suas características estruturais, o transporte ferroviário é mais barato e mais indicado para o transporte de cargas de grande valor agregado. Por esse motivo, é o mais utilizado nos países desenvolvidos de grande extensão territorial. Na contramão dessa tendência, o Brasil republicano apostou no transporte rodoviário, mais caro e que sobrecarrega o tráfego nas estradas de rodagem. Sucateado, o transporte ferroviário agora começa a se reerguer, apoiado também pelo potencial turístico das estradas de ferro.
Embora quase toda movimentação de carga seja feita por rodovia, existe ainda no Brasil uma forte cultura dos trilhos, iniciada na época do império. No Paraná, essa tradição também é forte e remete principalmente ao litoral do Estado, “berço da civilização paranaense”. A integração litoral?capital só aconteceu graças à linha férrea construída sobre a Serra da Mar.
Antonina, por exemplo, foi elevada à condição de Vila em 1712, mas a urbanização da cidade só se consolidou com a conclusão da Estrada da Graciosa e, principalmente, com o término da ligação ferroviária com Curitiba. Morretes também só firmou-se como vila autônoma com o comércio de erva-mate, facilitado pela estrada de ferro.
A relação entre tais cidades e a linha férrea é tamanha que a agonia de uma levou à agonia de outra. O sucateamento da malha da Rede Ferroviária Federal e a agonia financeira de Antonina e Morretes aconteceram quase que simultaneamente. As duas cidades litorâneas viram suam importância econômica transferida para o interior do estado.
Solução
A solução encontrada pelos municípios foi apostar no turismo. “Temos de aproveitar nosso enorme potencial pelo nosso passado, nossa história e nossas belezas”, diz o secretário do Turismo de Morretes, Orlei Antunes de Oliveira Júnior. Para sorte dessa cidades, que estão entre as mais antigas do Paraná, a Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF) tem um planejamento que visa à recuperação de parte fundamental da história de ambos os municípios. A associação estuda a reconstrução das estações ferroviárias das duas cidades. A Estação dos Matarazzo em Antonina, construída em 1932 como réplica da 1.ª Estação da cidade, de 1892, será remontada. “Pretendemos fazer o trabalho em alvenaria conforme o original”, diz o presidente da regional Paraná da ABPF, Carlos Dias Augusto.
A primeira estação de Morretes, construída em 1883, também deve ganhar uma réplica. “Ainda temos de definir onde construí-la. Se onde funcionava a antiga. Se próxima ao porto”, conta. As duas estações, no entanto, não vão receber nenhum trem moderno, nem de passageiros e nem de mercadorias. O trajeto, de ida e volta entre Morretes e Antonina, seria percorrido por locomotivas antigas, que seriam restauradas, com finalidade turística. “A ABPF conta com 15 veículos. Podemos usar ainda as do Matarazzo.”
A própria associação entende que o projeto está andando devagar. “Falta dinheiro, falta incentivo”, explica Dias. Mas muito já foi feito. O trecho entre as duas cidades foi limpo e os parceiros estão surgindo. Além das prefeituras, Dias cita a ALL-Delara, responsável pela concessão da linha férrea, e o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). A ABFP prefere não fazer contas sobre quando o projeto deve ser concluído. Mesmo assim, a iniciativa é vista com entusiasmo pelos municípios. “Está andando meio devagar, mas está andado, graças ao esforço do pessoal da associação”, diz Orlei, que aposta no projeto para revitalizar o turismo na cidade. “Isso vai ser fantástico para nosso turismo. É uma coisa meio ?temática? esse passeio entre Morretes e Antonina.”