Cesário (com celular) insiste em realizar as provas. |
Tumulto e correria fizeram parte, ontem, do primeiro dia de provas do vestibular da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Paraná. No campus de Curitiba, depois do início das provas de Redação ? que teve como tema os problemas políticos, econômicos e sociais brasileiros a serem resolvidos pelo novo governo ?, Língua Portuguesa e Língua Estrangeira, um grupo de 25 alunos que chegaram atrasados se reuniu para organizar um abaixo-assinado. Outros foram para casa chorando e indignados por terem perdido o horário. Os portões de acesso aos locais de prova foram fechados às 7h54, isto é, com quatro minutos de tolerância.
Segundo o estudante Eliseu Cesário, de 33 anos, que disputaria uma vaga no curso de Direito e que coletou a assinatura de outros candidatos atrasados, o abaixo-assinado deve ser entregue aos responsáveis pela comissão organizadora do concurso. “Pelo documento, estamos avisando que viremos fazer as provas de amanhã (hoje) e que vamos exigir que nos sejam aplicadas as provas de hoje (ontem).” Eliseu dizia ter chegado à PUC perto das 8h.
A maioria dos candidatos justificava o atraso a uma confusão com os horários de prova do vestibular da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Enquanto os portões de entrada para o concurso da PUC estão sendo fechados às 7h50, os do vestibular da UFPR, realizado no início da semana, eram fechados às 8h45. “Estudamos o ano inteiro e queremos fazer as provas. Um monte de gente está alegando que se confundiu e que não conseguiu descobrir com facilidade o horário de fechamento dos portões. Foi um erro da PUC, que não divulgou direito o horário das provas. Não podemos pagar por isso”, dizia o estudante Rodrigo Mateus, 19, que pretendia tentar uma vaga no curso de Administração e afirmava ter chegado à PUC às 7h55.
Marina de Almeida Piloni, 18, tentaria Publicidade e Propaganda e chegou ao campus às 8h10, achando que estava adiantada. Ela ficou surpresa quando viu os portões fechados e os fiscais lhe informaram que as provas já haviam sido iniciadas. “O horário de fechamento dos portões não estava especificado nem na internet, nem na ficha de inscrição para o concurso. Eu e muitos outros candidatos ligamos para a PUC e também não conseguimos informações. Não tínhamos como adivinhar que o horário do vestibular da PUC era diferente do da Federal.”
Vice-reitor
O vice-reitor da PUC, João Olynik, declara que não há chances de os estudantes que chegaram atrasados ao primeiro dia de concurso virem a fazer as provas. Ele nega que o horário não tenha sido bem divulgado. “Como a grande maioria dos candidatos acertou o horário?”, questionava. “Eles não adivinharam que os portões se fechariam às 7h50: simplesmente foram à internet ou abriram o Manual do Candidato e obtiveram a informação, que estava bem clara e especificada.”
Do lado de fora, a torcida dos pais
Cintia Végas
Enquanto os estudantes faziam as provas, muitos pais ficavam do lado de fora das salas torcendo. Alguns, como o aposentado Oliro Borazo, não escondiam o nervosismo. No campus da PUC em Curitiba, ele aguardava a filha, de 25 anos, que tenta uma vaga para o curso de Fonoaudiologia. “Chegamos ao campus às 6h40”, contou. “Embora seja o terceiro vestibular que minha filha enfrenta, não há como eu não ficar nem um pouquinho nervoso. Torço para que ela consiga ficar calma e para que dê tudo certo.”
Outros achavam formas de se distrair enquanto os filhos não terminavam as provas. Muitos conversavam, liam livros e jornais ou faziam um lanche. A professora Maria Benedita Hajok esperava a sobrinha, de 16 anos e candidata a uma vaga em Direito, fazendo tricô. “Como a minha sobrinha não é de Curitiba e conhece pouca coisa na cidade, vim com ela à PUC”, conta. “Agora, para me distrair e controlar o nervosismo, estou fazendo tricô. Isso ajuda a fazer com que o tempo passe mais rápido.”
1.110 desistiram ou se atrasaram
Cintia Végas
Este ano 13.230 candidatos se inscreveram para o vestibular da PUC, contra 12.897 inscritos no concurso realizado no fim do ano passado. No primeiro dia de concurso, ontem, 1.110 inscritos (8,39%) não fizeram as provas de Redação, Português e Língua Estrangeira. Desses, muitos chegaram atrasados, ficaram doentes ou simplesmente desistiram do concurso.
Segundo o coordenador da comissão de vestibular, Elmo Brito, e a pró-reitora acadêmica, Neuza Aparecida Ramos, o número menor de pessoas inscritas se deve ao fato de a PUC estar realizando vestibulares de inverno desde 2000 e também ao aumento do número de instituições de ensino superior no Paraná. Só em Curitiba, sessenta estão em funcionamento.
Durante as quatro horas de prova, 24 candidatos precisaram de atendimento médico devido a distúrbios gastrointestinais e crises de ansiedade, que provocam dor de cabeça e nervosismo excessivo. No total, dezoito candidatos fizeram as provas em bancas especiais devido a deficiências físicas, auditivas e visuais, amamentação, hepatite aguda viral ou hospitalização.
O concurso foi realizado em cinco locais em Curitiba e um em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana. Porém as provas também foram aplicadas nos campi da PUC de Maringá, Londrina e Toledo, que ainda está para ser inaugurado.
Vagas
O total de vagas oferecidas é 6.060, sendo 4.080 para o primeiro semestre de 2003 e 1.980 para o segundo. O curso mais concorrido é Medicina, com 2.700 candidatos para 180 vagas, seguido de Direito, com 1.186 candidatos também para 180 vagas. O menos concorrido é Letras com habilitação em Português e Espanhol, em que o número de vagas é praticamente eqüivalente ao número de candidatos. Dois cursos novos estão sendo ofertados: Engenharia da Produção com habilitação em Gestão e Logística e Engenharia de Alimentos com habilitação em Agroindústria.
Hoje e amanhã, os candidatos terão das 8h às 11h30 para resolverem as questões das provas. Hoje, serão aplicados os testes de História, Matemática e Biologia, todos compostos por quinze questões. Amanhã é a vez de Geografia, Física e Química, que também terão quinze questões cada.
A correção das provas realizadas ontem já tiveram início, sendo que as redações estão sendo corrigidas por trinta pessoas. A previsão é que a lista dos candidatos aprovados em primeira chamada seja divulgada no dia 6 de janeiro. Estes deverão fazer matrícula entre os dias 20 e 23 do mesmo mês.
Opiniões divergem sobre provas realizadas ontem
Cintia Végas
As opiniões sobre as provas de ontem do vestibular da PUC eram bem variadas. Enquanto alguns alunos consideraram as provas fáceis, outros disseram que elas estavam de nível médio.
Karen Cristina de Souza, de 18 anos, que tenta pela primeira vez uma vaga para o curso de Direito, considerou a prova de Língua Estrangeira um pouco complicada. “Os textos em inglês eram de difícil tradução e me bati para resolver algumas questões”, afirmou.
Já Gustavo Nunes, 18, que faz vestibular pela segunda vez para Desenho Industrial, achou a parte de Literatura da prova de Língua Portuguesa a mais difícil. “Tentei o vestibular da PUC no ano passado e achei que, desta vez, as provas do primeiro dia foram mais fáceis.”
A estudante Karen Michaela Tamussino, 17, que faz vestibular pela terceira vez e disputa uma vaga em Direito, também achou a prova de Português mais difícil. Porém, ao contrário de Gustavo, ela teve mais dificuldades em Gramática. “Acho que as provas da PUC estão sendo mais difíceis que as da Federal”, contou.
Muitos dos estudantes se diziam cansados por também já terem enfrentado as provas da UFPR. “Está sendo pesado”, queixou-se Karen. “Não tivemos nem um dia para descansar e dormir um pouco”, completou Gustavo.