A operação de transgenitalismo será a nova modalidade a ser realizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a partir da publicação de uma portaria que deve sair até o final desse mês.
Porém, para que um hospital possa ser qualificado, o Ministério da Saúde vai determinar uma série de exigências para que as instituições possam realizar esse procedimento, em particular a cirurgia de troca de sexo, uma vez que se trata de uma operação considerada agressiva.
No Paraná, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) está aguardando a publicação da portaria para verificar quais hospitais terão condições de realizar essa operação.
?Só para se ter uma idéia, um procedimento dessa magnitude envolve uma equipe grande, composta por psicólogos, assistentes sociais, médicos endocrinologistas, urologistas, psiquiatras e ginecologistas?, revela Irvando Carulo, superintendente em gestão da saúde da Sesa. Ele diz ainda que é preciso que o hospital tenha leito na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para recuperação do paciente.
Por meio de sua assessoria de comunicação, o Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) informou que, por enquanto, não deve adotar a cirurgia de transgenitalismo em seus quadros.
O motivo alegado é o de que a instituição ainda não dispõe das solicitações exigidas pelo Ministério da Saúde. Além disso, o HC possui diversas cirurgias ditas eletivas – em que o paciente agenda a operação sem que isso possa causar algum problema – com muitos pacientes na fila e que não há vagas na UTI para todos.
Por exemplo, o tempo de espera para realizar uma cirurgia bariátrica (redução de estômago) é de cinco anos. Transplantes de medula não têm um prazo definido, mas pode levar até um ano ou mais. Somente transplantes hepáticos (fígado) não seguem exatamente uma fila, uma vez que, se o caso for grave, o paciente é atendido prioritariamente.
Para o presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) e vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Gerson Zafalon Martins, a portaria é válida, porém ele faz uma ressalva.
?A partir do momento em que a portaria estiver valendo, o CRM/PR e o CFM irão fiscalizar com rigor para verificar se as regras estão sendo cumpridas. Não adianta ofertar um serviço e não dar as mínimas condições para que ele funcione?, encerrou.
Paciente acha iniciativa válida
Um exemplo de caso de transsexualismo que terminou em final feliz ocorreu no Paraná. A pessoa, que pediu para não ter a identidade e a cidade onde vive reveladas, nasceu com uma anomalia sexual.
Ela possuía genital masculino, mas psicologicamente e morfologicamente era mulher. Em 2005, ela se submeteu à cirurgia de troca de sexo em São Paulo, após passar anos de sofrimento.
?Essa operação fez muito bem para mim, pois melhorou a minha auto-estima. Sempre me achei mulher e fiquei realizada após a operação. Porém sofri muito com esse problema, sem mencionar a discriminação que sofria?, revela. Para ela, o procedimento de cirurgia de troca de sexo pelo SUS será importante para auxiliar pessoas que sofrem de algum tipo de anomalia sexual.
?Acho essa iniciativa do governo federal muito válida. Quando fiz a cirurgia, há três anos, tive que ir para uma clínica particular porque a rede pública não fazia essa operação. Entretanto, acho que devem ser obedecidos critérios técnicos para ver se a pessoa realmente precisa passar por isso e se os hospitais possam ter condições para realizar esse procedimento?, afirma. Ela confessa que ainda sofre algum tipo de preconceito por causa da operação, mas que em hipótese alguma se arrepende da cirurgia.
?Eu me sentia ?presa? antes da cirurgia, como se estivesse para morrer. Mas isso é uma página virada na minha vida. Faria tudo de novo se fosse necessário?, finaliza. (FL)