No dia 30 de março de 1974, circularam as últimas edições de O Estado do Paraná e da Tribuna do Paraná saídas das redações e oficinas no centro da cidade. Era um velho prédio, onde se produzia um jornal com velhas técnicas. A mudança representava um salto para nova fase, com modernas tecnologias em jornalismo impresso. A primeira página de O Estado estampava: “O prédio da Barão do Rio Branco, 556 está deserto: as linotipos silenciaram. A heroica rotativa de 20 anos de trabalho diário já repousa. O amplo salão que se transformava na balburdia organizada de uma redação do jornal está vazio”.

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Não era a primeira vez que O Estado do Paraná mudava de casa. Ele funcionou durante seus dois primeiros anos na Rua Vicente Machado, perto da Praça Osório. Mas a mudança de março de 1974 era histórica. No dia seguinte o jornal foi impresso com 136 páginas em novo endereço. Rua João Tschannerl, 800, no bairro das Mercês, numa grande área privada, denominada Cidade da Comunicação, onde também funcionava a TV Iguaçu, Canal 4. O jornal do dia 30 anunciava: “Hoje saiu às bancas a última edição de O Estado e Tribuna do Paraná pelo sistema tipográfico. Amanhã estará nas bancas o jornal do ano 2.000, composto pelo sistema mais moderno do mundo”. A primeira manchete dos novos tempos, dia 31 de março, impressionava: “Marte é deserto açoitado sempre por fortes ventos”. Refletia o que a ciência acreditava na época.

O jornal não hesitou em anunciar: “Imprensa do Paraná hoje em nova fase”. O local se transformou num endereço que produziu um dos melhores períodos do jornalismo paranaense, embora com censura impiedosa. As fases passam, assim como o ano 2.000 também chegou e se foi. Novos tempos, com novidades tecnológicas e transformações empresariais apareceram para criar outras fases da Tribuna do Paraná. E, agora, mais uma mudança, para o Centro, para a Rua José Loureiro, 282, para construir mais uma nova fase de sua história.

Mudanças

Gerson Klaina
Jornalistas fecharam na noite de ontem, a última Tribuna nas Mercês. No alto, a nova redação.
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A nova mudança de local é apenas o resultado de um processo que começou há muitos anos. A Tribuna, assim como O Estado do Paraná, pertencia ao grupo capitaneado pelo ex-governador Paulo Pimentel. Empresário e político ele começou nos primeiros anos deste novo século a negociar as suas empresas de comunicação. Primeiro vendeu as emissoras de televisão para o empresário Carlos Massa. Em seguida, no começo de 2011, O Estado do Paraná deixou de circular em sua edição diária impressa. E no final do mesmo ano, a Tribuna do Paraná foi adquirida pelo GRPCom.

Assim, a mudança da Tribuna para novo endereço passou a ser questão de tempo. E o tempo chegou. Neste dia 6 de setembro, circula a última edição saída da redação nas Mercês. A próxima edição, desta segunda-feira, será feita na nova redação no centro da cidade, região de onde o jornal saiu há 39 anos e 5 meses. Como naquele tempo se previa, uma nova história foi escrita. A mudança de local não altera a vocação do jornal – a Tribuna continua a mesma: o jornal amigo do leitor em busca de boa informação.
<,br />Para o diretor de Redação, Rafael Tavares, que entrou para o jornal em 1996 e ocupou as funções de diagramador, repórter e chefe de reportagem, a mudança para o centro da cidade só vai trazer benefícios. “O significado desta mudança não é apenas o fato de estar indo para uma nova redação, mas que estamos indo para um espaço mais adequado às necessidades atuais e para um ambiente que vai proporcionar muito mais sinergia com as outras áreas do grupo”, diz ele. Ele observa que “tem que se lembrar que naquele espaço para onde estamos indo não funciona apenas a Gazeta do Povo, mas todas as áreas corporativas do GRPCom. Tudo está centralizado ali o que facilita o trabalho e tomada de decisões”, diz ele.

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Histórias de duas épocas

Levi Mulford, de 84 anos, entrou para a Tribuna em 1956. O primeiro número do jornal traz seu nome, assinando a coluna Flashes Suburbanos. Da velha Tribuna da Rua Barão do Rio Branco, no centro da cidade, Levi Mulford lembra que foi uma época diferente da atual. “Era tempo do linotipo, as fotos eram feitas em clichês”, recorda ele. Os tempos mudaram. Levi Mulford foi para as Mercês e acha que a nova mudança não afeta sua rotina, embora ele more a poucos metros do jornal. “Hoje em dia existe e-mail e eu vou mandar o material pela internet”, diz ele.

Outro veterano da Tribuna que envia seu trabalho por e-mail é Nelson Comel, que está no jornal desde os primórdios. “Eu faço todo tipo de esporte amador que não seja o futebol”, diz ele. Ele começou no início dos anos 50 em O Estado do Paraná e passou a produzir também para a Tribuna, quando esta surgiu em 1956. Durante 43 anos Comel organizou o Peladão, um campeonato de futebol amador que reunia dezenas de clubes.

Outro remanescente da Tribuna no centro da cidade, Jorge Luiz da Silva entrou para o jornal em 1968, com apenas 14 anos de idade. “Eu me formei no curso de Linotipia do Senai. E fui para o jornal para ser linotipista. Fiquei animado, achei que ia comandar uma daquelas dez máquinas de linotipo, mas me deram uma vassoura para varrer o chão”, diz Jorginho. Ele começou com a vassoura, mas não ficou nela. Jorginho hoje edita esporte amador.

Um dos chefes de Redação, Armindo Berri, entrou para o jornal em 1977. Naquele tempo o ponto de ônibus Mercês-Guanabara e também o asfalto terminavam na frente do jornal. Berri se familiarizou com as pessoas que vinham para aquela região. “Era possível saber em que ponto cada uma delas ia descer”. Naquele tempo – nos anos 70 – a cidade tinha uma quantidade bem menor de edifícios, o bairro Mercês ficava um pouco distante e as mansões eram bem mais escassas. As mudanças acontecem e semeiam histórias.