Dos 8.337 acidentes de trânsito ocorridos em Curitiba no primeiro semestre deste ano, 664 foram atropelamentos, ocorridos em sua maioria em travessias. Os dados do Batalhão da Polícia de Trânsito (BPTran) repassados ontem, durante o 9.º Encontro Municipal de Segurança no Trânsito, retratam em parte os riscos a que os pedestres estão expostos. Situações que, segundo os especialistas, poderiam ser evitadas se o sistema de trânsito estivesse mais voltado para os pedestres.
As travessias mais perigosas da capital são as das avenidas Marechal Floriano, com 44 atropelamentos de janeiro a junho; Comendador Franco (das Torres), 34 atropelamentos no mesmo período, e Visconde de Guarapuava, com 26 atropelamentos. Segundo o chefe de instrução, atualização e pesquisa do BPTran, primeiro-tenente Adenilson Lima da Silva, a principal causa é a imprudência de pedestres e condutores. Por um lado, o pedestre abusa ao atravessar a rua fora da faixa, não cruzar as vias em linha reta e não utilizar as passarelas e o passeio. Por outro, o motorista excede na velocidade e se acha dono da razão. O resultado: acidentes. “É preciso muita atenção e prudência de ambas as partes”, destaca o tenente.
Conforme exemplos apresentados pelo consultor em planejamento e engenheiro de tráfego e transporte do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Philip Gold, há vários cruzamentos em Curitiba sem semáforo e faixas para pedestres. Para ele, o sistema não fornece informações ao pedestre sobre o fluxo de veículos. Mapas, exibidos por ele, mostram uma maior concentração de atropelamentos com mortes na área central da capital, uma região que em parte se beneficia de maior sinalização. Já nos bairros, observa ele, é difícil encontrar travessias com faixas.
De acordo com o próprio Código de Trânsito Brasileiro, o motorista, na ausência do semáforo, deveria parar nas faixas para o pedestre atravessar. “Isso não acontece porque falta fiscalização”, explica Gold. Outro problema ocasionado pela falta de semáforos acontece nas ruas de mão dupla. “É fisicamente impossível o pedestre olhar para os dois lados ao mesmo tempo. Cada um se vira como pode”, pondera.
Calçadas
Para o arquiteto, urbanista e professor da Universidade Federal do Paraná, Luís Henrique Cavalcanti Fragomeni, uma das falhas está na falta de calçadas, principalmente apropriadas para cada região. “Os grandes geradores de tráfego, como universidades, escolas e supermercados, estão em localidades sem acesso adequado”, exemplifica. O urbanista entende que é preciso pensar primeiro nas calçadas e depois nas pistas. A proposta dele está na descentralização das atividades de planejamento, com ações mais diretas e ativas juntos as comunidades. “O poder público perdeu o contato com o cidadão”, reclama. A maior sintonia do poder público com a população poderia, segundo Luiz Henrique, contribuir para estabelecer mais segurança aos pedestres. “O ideal é que as pessoas pudessem ir a pé para o centro da cidade com segurança, com cruzamentos bem demarcados e sem a necessidade do deslocamento com automóveis”, sugere.