Para o lixo reciclável há muitas alternativas de solução, o difícil mesmo é resolver a questão dos resíduos orgânicos. Assim pensa o proprietário da empresa de reciclagem Petsul, Ivan Coelho dos Santos, que, em parceria com o biólogo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) Jackson Müller, pretende fornecer a tecnologia de Usina de Reciclagem e Compostagem. ?O processo de instalação e operação é barato, gera como subproduto adubo orgânico e impede a formação de chorume, evitando a poluição de rios e lençóis freáticos?, afirma Santos.
Segundo ele, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) deu licença de uso do equipamento para uma cidade da Região Metropolitana de Curitiba (RMC), que em breve estará implantando uma dessas usinas. Santos diz também que uma cidade do Rio Grande do Sul já utiliza o sistema com sucesso.
Müller explica que foi desenvolvido um projeto de separação e triagem dos materiais, separando o material reciclável do orgânico. O material reciclável é classificado e vendido e a fração orgânica segue para um processo que Müller chama de compostagem acelerada.
Diferente da compostagem convencional, que demora cerca de 150 dias, esse processo dura pouco mais de 30 dias. Para conseguir a redução considerável de tempo, os resíduos orgânicos passam por processo de ?aeração?, permitindo uma decomposição muito mais rápida, sem formar subprodutos nocivos ao meio ambiente como chorume e metano.
O biólogo da UFRS conta que veio a conhecer essa técnica pela primeira vez na Alemanha em 1997 e resolveu adaptá-la à realidade técnica e climática brasileira. ?A idéia é difundir a técnica no Paraná, onde se tem um problema muito sério com o lixo. O processo tem a vantagem da simplicidade de operação e viabiliza a solução de um problema ambiental dos mais graves. O que se transformaria em poluente vira adubo.? Segundo ele, a atividade gera também trabalho e renda, através da comercialização de materiais recicláveis.
Processo
Santos afirma que uma usina de reciclagem e compostagem é capaz de suprir as necessidades de uma cidade de população de aproximadamente 250 mil pessoas, que produzem no período de um mês cerca de quatro mil toneladas de lixo recebido. Segundo ele, após a triagem desse volume total de resíduos, são retirados cerca de 2.800 toneladas de material não orgânico – como alumínio, plástico, papelão, papel, vidro, ferro, outros – e o restante é enviado para o processo de compostagem, de onde se originará o adubo. De 1.200 toneladas de lixo orgânico, resultam aproximadamente 840 toneladas de adubo, que é estocado, e 360 toneladas de rejeitos, que são enviados para aterro sanitário.
No Rio Grande do Sul, afirma Müller, o adubo é utilizado principalmente por floriculturas. ?Pode também ser usado em áreas degradadas, em reflorestamento, em canteiros. Possui uma alta carga de materiais orgânicos como carbono e nitrogênio?, explica. Ele diz que a presença de metais pesados é muito pequena nesses compostos.
Carrinheiros temem acidentes no trabalho
O carrinheiro Carlos Alencastro Cavalcanti conta que provavelmente todos os dias acontece algum tipo de acidente com catadores de papel em contato com lixo em Curitiba. Segundo ele, isso é mais comum com os catadores que trabalham individualmente, por que dificilmente eles utilizam equipamentos de proteção individual (EPI). ?Os grupos organizados utilizam os EPIs, o que faz os acidentes diminuírem?, explica. Cavalcanti afirma que os acidentes geralmente envolvem materiais cortantes, como latas e pedaços de vidro partido.
Já as crianças que acompanham os pais nas atividades de coleta pela cidade podem vir a contrair alguns tipos de doença. Segundo a tesoureira da organização não governamental Instituto de Lixo e Cidadania, Maria Rosa, elas podem apresentar doenças de pele, piolhos e verminose. Maria Rosa diz também que os problemas de saúde mais graves atualmente acontecem em lixões, como no de Embocuí, em Paranaguá.
Ela afirma que ao se jogar latas e embalagens de comida fora, é importante que sejam lavadas. ?Evita que as crianças passem o dedo para retirar restos do conteúdo da lata e comam e prejudiquem sua saúde. Isso é comum com embalagens de doce de leite, por exemplo.?
Maria Rosa explica também que embalagens limpas podem ser comercializadas por carrinheiros por um preço maior. Cavalcanti diz que o material lavado realmente é de grande ajuda. ?Não somos exigentes. Para o morador que joga o material não é um grande trabalho, mas para a gente é uma excelente contribuição?, afirma. (RD)
Cortantes devem ser separados
Foi de modo inesperado que, há dois meses, ao retirar um saco de lixo pesado que estava numa cesta alta, o coletor da Cavo Marcelo das Chagas cortou o braço com pedaços de vidro quebrado. Recebeu três pontos, ficou afastado cinco dias para tratamento, teve de tomar vacina antitetânica. Nessa mesma época teve outro problema, dessa vez com cachorro vira-lata que o mordeu pelas costas. Mais cinco dias afastado, curativos, vacina anti-rábica. ?A maioria de nós possui uma história dessas. Alguns colegas perfuram as mãos com seringas?, afirma. Chagas trabalha como coletor há apenas cinco meses.
Cortes com cacos de vidro, perfurações por seringa, perseguições e mordidas de cachorro são problemas comuns enfrentados pelos coletores no manuseio do lixo doméstico em Curitiba. O engenheiro de segurança da Cavo, Ted Marcel Horn, informa que acontecem mensalmente cerca de dez a quinze acidentes relacionados a essas causas.
Mas, os moradores podem contribuir para evitar acidentes, explica o encarregado da coleta do sistema domiciliar, Aílton Constantino da Silva. ?Materiais cortantes devem ser colocados em caixas de papelão ou identificados, para que os coletores tomem precauções no recolhimento?. Segundo ele, alguns dos bairros em que os coletores mais se ferem com vidro são o Centro, Vila Isabel, Campina do Siqueira, Seminário, Santa Quitéria. ?Em regiões próximas a bares e restaurantes esses acidentes também são freqüentes.?
Os problemas com cachorros soltos perseguindo caminhões da coleta de lixo e querendo morder coletores acontece mais, diz Silva, em bairros afastados. ?Muitas vezes, cachorros grandes como rottweiler e pastor alemão escapam pelos portões das casas e mordem os coletores.? Ele afirma que os moradores deveriam deixar os animais presos e manter as lixeiras afastadas dos muros, a uma distância segura de possíveis ataques de cães.
O engenheiro de segurança da Cavo explica que os acidentes acontecem com os coletores mesmo usando equipamentos de proteção individual. ?Poderíamos blindar os funcionários, mas eles não conseguiriam se mover com agilidade?, diz. Os coletores correm cerca de 30 quilômetros por dia.
Segundo a assistente social Carla Bonatti, da Cavo, o trabalho dos coletores é difícil e quando se fala que os moradores podem ajudar, muitas vezes alguns deles assumem uma postura de que o problema não lhes diz respeito. ?É uma questão pública. Pedimos a colaboração para que se possam evitar acidentes.? (RD)