Para esquentar o debate sobre o espaço da bicicleta no trânsito, Curitiba receberá durante o mês de fevereiro o 3.º Fórum Mundial da Bicicleta. O evento foi criado há dois anos em resposta ao atropelamento de um grupo de ciclistas em Porto Alegre (RS). Neste primeiro ano na capital paranaense o evento trará oito palestrantes internacionais para debater soluções alternativas para o problema de transporte nos grandes centros urbanos.

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De acordo com os organizadores do Fórum, o evento é uma oportunidade para a cidade buscar um maior equilíbrio no trânsito. “As pessoas dirigem como se fossem donos da rua. O motorista, além de não dar preferência à bicicleta ou pedestres, força a passagem”, diz o coordenador geral da Associação de Ciclistas do Alto Iguaçu (Ciclo Iguaçu), Jorge Brand, conhecido como Goura.

Para o coordenador da associação, criada em 2011 para intermediar o diálogo sobre ciclomobilidade com o poder público, desde o início do plano diretor de Curitiba a bicicleta nunca foi pensada como uma alternativa de transporte. “Hoje em dia os ciclistas utilizam muito mais as canaletas dos biarticulados do que as ciclovias”, constata Goura.

Para o coordenador da Ciclo Iguaçu o motivo é simples: “Os bairros e o centro foram ligados pelas canaletas e as rápidas em torno. As ciclovias estão apenas próximas aos parques, ou espalhadas uma das outras”. Outro motivo apontado por Goura para esse uso das vias de ônibus seria a falta de conscientização dos motoristas. “O motorista pensa que lugar da bicicleta é na calçada e não na rua, e não respeita uma distância segura. A consequência é que tem ciclista que se arrisca dividindo espaço com os biarticulados”, diz.

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Um dos projetos encaminhados à prefeitura pelo Ciclo Iguaçu pretende acabar com esse risco. “Esse é um problema antigo e como estamos em um diálogo positivo com a prefeitura, sugerimos a criação de uma faixa compartilhada nas vias de fluxo lento em torno das canaletas”, afirma.

Para Goura, essas soluções apenas são possíveis a partir do diálogo e do debate. “O poder público tem o costume de impor, e isso está mudando. O Fórum é uma oportunidade para que as pessoas contribuam com suas experiências e passem a ser mais ativas”, diz. O 3.º Fórum Mundial da Bicicleta ocorrerá entre os dias 13 e 16 de fevereiro. A entrada é gratuita e as inscrições podem ser feitas através do site da Associação Ciclo Iguaçu a partir de hoje.

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Investimentos

O Plano Cicloviário de Curitiba prevê para 2014 a destinação de mais de R$ 90 milhões na área de ciclomobilidade. O investimento deve recuperar a malha viária já existente e ampliar em 300 km as ciclovias. De acordo com o coordenador do Ciclo Iguaçu, o valor é superior a todos os anos anteriores. “Curitiba é de longe melhor que outras metrópoles do Brasil, mas ainda precisa melhorar se quiser continuar sendo referência em soluções de mobilidade”, afirma Goura.

Falta de respeito é maior obstáculo

Ciciro Back
Goura, do Ciclo Iguaçu: “Motoristas dirigem como donos da rua”.

Para muitas pessoas a bicicleta vai além do simples lazer e é utilizada como um transporte diariamente. Para outras, vai além do transporte e se transforma em uma questão de superação. Esse é o caso de Marlon Pimentel, de 43 anos, que teve os movimentos afetados pela paralisia infantil e mesmo assim se equilibra todos os dias em cima de uma bike.

Com sua bicicleta sinalizada com um aviso de sua condição, ele atravessa ,o centro da cidade, passa pela Rua XV, anda pelas ruas e conta que demora até que as pessoas notem que não se trata de um ciclista comum. Marlon conta que o primeiro contato com a bicicleta foi aos nove anos. “Sempre tive problema de locomoção. Por esse motivo quando era pequeno meu primo me levava no cano da bicicleta para todo lugar”, lembra.

Dificuldade

Em pouco tempo Marlon aprimorou seu equilíbrio e desenvolveu uma facilidade em permanecer sobre as duas rodas. “Pedalava apenas com uma perna, mas o mais difícil sempre foi conseguir se equilibrar”, conta. Mas para Marlon, a maior dificuldade em andar pelas ruas da cidade não está relacionada à poliomielite e sim à falta de conscientização dos motoristas. “O risco que eu corro qualquer ciclista corre. Falta uma cultura de tolerância no trânsito”, diz.