Tradição impede avanço da cremação em Curitiba

A cremação pode ser uma alternativa para o problema de déficit de sepulturas nos cemitérios municipais de Curitiba, além de ser menos agressiva ao meio ambiente, afirma o presidente do Sindicato das Empresas Funerárias do Paraná, Gelcio Miguel Schibelbein. Além de ser – na maioria das vezes – mais barato que o sepultamento, o procedimento crematório está também começando a mudar comportamentos em relação aos diferentes destinos que podem ser dados aos restos mortais de entes queridos.

O secretário estadual do Meio Ambiente, Luiz Eduardo Cheida, diz que "um dos grandes problemas que as metrópoles enfrentam é a falta de espaço para sepultamentos, o que pode ser resolvido com os cemitérios verticais ou com a cremação". Ele afirma também que, embora não haja estudos conclusivos, a cremação parece ser menos poluente e, portanto, uma melhor alternativa ambiental.

Com relação a despesas, um túmulo pode custar entre R$ 2 mil e R$ 10 mil, enquanto que o custo da cremação fica por volta de R$ 2,5 mil. Deve-se considerar também que no sepultamento há o gasto adicional com a taxa de conservação cobrada pelos cemitérios anualmente.

Processo

A diretora de marketing da Vaticano Crematorim Curitiba, Mylena Cooper, diz que na cerimônia de cremação o funeral acontece normalmente, como em qualquer enterro. Após o cortejo do caixão até o crematório, é feito um rito de 20 a 30 minutos em uma sala e, em seguida, o corpo é cremado. O procedimento dura de duas a três horas e o corpo, juntamente com caixão, se transforma em cerca de três quilos de cinzas, que podem ser levadas para a casa dos familiares, ou podem ficar também num lugar especial no próprio crematório, chamado de "Locus".

Podem, ainda, receber destinos mais inusitados. Ao preço que varia entre US$ 14 mil e US$ 20 mil, a Vaticano Crematorium Curitiba pode enviá-las numa cápsula para a Lua ou para o espaço. Elas podem ficar orbitando ao redor da Terra ou seguir "uma jornada infinita entre as estrelas", conforme consta num informativo da empresa.

De acordo com Mylena, isso foi possível a partir de um convênio único na América Latina firmado com a empresa americana Celestis, que tem contrato exclusivo com a Nasa. "Mas até agora não tivemos nenhum brasileiro interessado."

Mylena conta que algumas pessoas misturam as cinzas na tinta para pintar suas casas e outras dão a elas um fim mais poético – utilizam-nas como "adubo" e plantam árvores.

Ainda que lentamente, a cremação está começando a fazer as pessoas cultivarem novos hábitos. Segundo Mylena a empresa tem vendido jóias de ouro branco ou outros materiais, onde são colocadas as cinzas da pessoa amada. "Foram os clientes que começaram a pedir esse tipo de serviço", relata. Até o momento, foram vendidas trinta peças e as principais compradoras eram viúvas.

Além da Vaticano Crematorium Curitiba, que está estabelecida em Campina Grande do Sul, outra empresa presta o serviço de cremação na Região Metropolitana de Curitiba – a Crematorium Metropolitan, com sede em Pinhais.

Resistência

De acordo com Gelcio Schibelbein, as duas empresas juntas realizam entre 30 a 40 cremações por mês. Um número baixo, que para ele é fruto dos hábitos culturais e das crenças das pessoas. A opinião é partilhada por Mylena. Ela afirma que as pessoas de Curitiba são muito tradicionalistas e as novidades são assimiladas mais lentamente. "Nos cinco anos de existência, a empresa realizou cerca de 500 cremações."

Em alguns países, a cremação é a regra, não a exceção. Conforme uma pesquisa realizada em setembro de 2003, pela Cremation Association of North America, no Japão, 98% dos mortos recebem esse fim, no Canadá o índice é de 96% e na Grã-Bretanha, 71%. (Rhodrigo Deda)

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