Mesmo em um dia chuvoso como o de ontem, pelo cruzamento entre a Avenida Sete de Setembro e a rua General Carneiro, no Centro, atravessam sonhos projetos e os mais diversos sentimentos de quem chega ou parte de Curitiba. Enquanto a índia Kaingang Doralina Machado, 60 anos, trouxe da aldeia em Laranjeiras do Sul, o desejo de vender seu artesanato e passear pela capital até a próxima segunda-feira, a assistente social Nadir Machado, 38 anos, vinha de Cananéia (SP) com o objetivo de conseguir na rodoferroviária daqui uma opção de ônibus que a levasse ao encontro de sua mãe, que mora no mesmo município de onde veio Doralina.
Marco Andre Lima |
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Nadir reencontra família nas férias. |
Sem deixar de trançar a palha de taquara para confeccionar outro balaio, Doralina conta que há anos viaja até Curitiba para uma temporada em busca de uma renda extra e de oportunidade de trabalho para dois dos seus quatro filhos. “Eles gostam mais daqui do que da aldeia. Se um dia eles tiverem empregos bons, eu venho com eles”, explica. Ela garante que a tradição de passar de geração a geração o artesanato e os grafismos Kaingang seguem na aldeia, porém, é cada vez menor o interesse das novas gerações de lá permanecerem. Ela sabe que no interior as plantações de feijão, milho e mandioca asseguram a alimentação de todo dia, mas os apelos da sociedade de consumo têm um peso maior sobre os anseios dos mais novos da tribo. Coragem e disposição para sobreviver em Curitiba ou em Laranjeiras sobram em Doralina que traz alguns utensílios prontos e confecciona o restante aqui. Seja no ponto de venda, em frente ao Mercado Municipal pela Avenida Sete de Setembro, seja no seu lugar de descanso, os bancos da rodoferroviária. “Ninguém me incomoda e nem tenta roubar os meus cestos”, atesta.
Espera com manicure e café
Apesar de viver um realidade completamente diferente de Doralina, Nadir conta que a família também precisou buscar em outras cidades oportunidades melhores de trabalho. “Minha mãe continua em Laranjeiras do Sul. Eu fui viver em Cananéia e trabalhar em Santos. Já os meus irmãos foram para Curitiba. Apenas nesta época do ano, quando pegamos férias, que voltamos para nos reencontrar”, revela. E o encontro deste ano exigiu um esforço a mais de Nadir. Como os ônibus diretos até Foz do Iguaçu estavam lotados, o jeito foi fazer a “baldeação” em Curitiba. “Cheguei 12h30 e somente às 23h45 tem ônibus que vai para lá”. Na passagem curta pela capital, ela pretendia encontrar um salão de beleza para fazer as unhas e tomar um café.