Uma tradição cada vez mais rara em Curitiba. É o famoso ato de ?malhar o Judas?, prática comum no Sábado de Aleluia. Ontem, na capital, os bonecos de judas eram encontrados apenas em bairros mais isolados. O vilão da vez não foi um personagem específico, como costuma ser. Este ano, a escolha foi malhar os envolvidos no escândalo dos cartões corporativos, de uma forma genérica, sem citar nomes.
O marceneiro Ronaldo Lameki é um dos que mantêm a tradição. No caso dele, herdou de sua avó o costume de mais de 50 anos. Todo ano ele confecciona alguns bonecos com roupas velhas e máscaras, estufa com serragem e coloca na frente da sua casa, no bairro do Taboão, para a diversão das crianças do bairro.
Ele lamenta que o costume esteja sendo deixado para trás em Curitiba. ?Parece que não é Páscoa, se a gente não faz a malhação do Judas no Sábado de Aleluia?, diz Lameki, um dos que escolheram os cartões corporativos como tema. ?É uma manifestação limpa, que a gente faz para expressar os nossos sentimentos contra os políticos.?
Outra família curitibana que tenta preservar o costume da malhação do Judas é a do empresário Hilário Gulin, que mora em Santa Felicidade. Há mais de 30 anos, o boneco é pendurado em uma árvore na frente da sua casa e as crianças da vizinhança são reunidas para a brincadeira.
A esposa de Hilário, Regina Gulin, acredita que a malhação do Judas é uma tradição importante de ser mantida e passada às crianças. ?Nosso filho Northon adora?, conta, lamentando também que a prática esteja se tornando rara em Curitiba. ?A tradição está acabando.?
O tema escolhido pelo empresário este ano também foi os cartões corporativos. Regina ironiza: ?Quem não gostaria de ter um??. O autônomo Luciano Brischiliari, que passava pelo local, reforça a indignação. ?Nós continuamos escravos desses políticos?, reclama. Porém, Luciano preferiu não extravasar seu descontentamento no boneco. Sinal dos tempos.