Tradição da capelinha é mantida na capital

Quase 1 milhão de curitibanos recebem, em suas casas, a capelinha com a imagem da Virgem Maria. Em Curitiba, a tradição começou há 68 anos e é um dos poucos movimentos religiosos que continuam agregando mais participantes. As famílias são agraciadas com a visita da santa por 24 horas, e devem seguir algumas recomendações para que todas recebam a capelinha nos dias corretos.

Yara Camargo França Schwarz, presidente do Movimento das Capelinhas da Arquidiocese de Curitiba, explica que existem 8 mil capelinhas na cidade. Cada uma visita cerca de 30 famílias, atingindo 4 pessoas em cada parada, em média. Chega-se, então, ao número de 960 mil pessoas que possuem contato com a imagem uma vez por mês. Yara afirma que o movimento está presente em todas as paróquias de Curitiba, que disponibilizam a capelinha aos grupos interessados.

As mensageiras, responsáveis pelos cuidados das capelinhas, atendem as famílias que querem receber a santa. As zeladoras devem fazer os roteiros do caminho a ser percorrido pela capelinha, e repassar as orientações da igreja. A imagem pode ficar 24 horas na casa de cada família, sendo repassada depois das 18h – hora tradicional da missa em homenagem a Nossa Senhora.

Mas, hoje em dia, o horário não é tão respeitado em virtude dos compromissos diários de cada pessoa. Depois de um dia, a família deve entregar a capelinha para a próxima do roteiro, convidando-a para uma oração. Esse processo continua até voltar à mensageira, que promove uma reunião semanal entre os participantes, para rezar o terço. Yara comenta que o recebimento da capelinha é um momento ímpar de oração, sendo uma oportunidade para a união dos familiares.

O movimento visa evangelizar as famílias e propagar a devoção à Nossa Senhora. Cada capelinha possui um compartimento para as doações, que auxiliam a formação de novos padres e sacerdotes. O movimento das capelinhas é um dos mais importantes segmentos fora da igreja, segundo Yara. Ela acredita que o serviço religioso é um dos poucos cuja participação cresce constantemente. ?Apesar de toda essa sociedade consumista, sem justiça, o povo sente necessidade de algo espiritual?, opina. 

Responsabilidade nos cuidados com a santa

A dona de casa Rosângela Therezinha Giorgino é a zeladora responsável pela capelinha que circula em um prédio no bairro Água Verde, em Curitiba. A imagem de Nossa Senhora, que vem da Igreja Santa Terezinha, visita 18 dos 40 apartamentos do edifício.

Ela conta que o movimento existia quando o prédio começou a ser habitado, há 25 anos, mas foi perdendo força com o tempo. A capelinha acabou sendo devolvida para a igreja. Em 2001, um grupo de moradores que se reúne para rezar o terço semanalmente propôs a volta da santa.

A correria do dia a dia serve de argumento para as famílias não se comprometerem em receber a capelinha, revela Rosângela. Aqueles que aceitam nem sempre cumprem a orientação de devolver a capelinha em 24 horas, alegando também os compromissos diários.

?Se fosse mais rígida, mais gente desistiria de receber a imagem. No início do movimento no nosso prédio, eram 25 apartamentos que recebiam a capelinha. Hoje são 18. A nossa vantagem é que temos uma folga no mês. Mas tem gente que faz questão de receber, que cumpre as orientações e trata a santa com zelo?, declara. Apesar dessa situação, Rosângela convida todos os moradores a fazerem parte do movimento a cada início de ano.

Na capelinha ficam afixados os 10 mandamentos do movimento, orações e o roteiro de entrega da imagem. As informações de missas, novenas, orações de terço e outros eventos da paróquia são colocados no quadro de avisos do prédio. Rosângela esclarece que, além das orações, a família deve deixar as portas da capelinha sempre abertas, não deixá-la entrar pela porta de serviço e acender uma vela para a Nossa Senhora. (JC)

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