Teste da orelhinha ainda não é levado a sério

A realização do teste da orelhinha, que detecta deficiência auditiva em crianças recém-nascidas, é obrigatória em todo o Paraná, segundo a Lei 14.588, aprovada em dezembro de 2004 e sancionada pelo governador Roberto Requião. Mas essa determinação ainda não é cumprida. O exame poderá ser implantado na rede pública de saúde do Paraná em 2006. A Secretaria de Estado da Saúde está concluindo os estudos para a sua implantação.

O teste é feito por um aparelho que emite sons no ouvido da criança, e detecta o ruído gerado na orelha interna. Caso não haja esse ruído, a criança deve ser reavaliada porque pode apresentar problemas de audição. Essa foi uma das reflexões realizadas ontem, no Dia Nacional de Prevenção e Combate à Surdez.

Estima-se que 300 mil crianças brasileiras tenham deficiência auditiva. A surdez, parcial ou total, atinge pelo menos 3 em cada mil recém-nascidos no Brasil. Os bebês que necessitam de internamento em Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), por sua fragilidade e imaturidade no sistema nervoso central, possuem mais chances deapresentar o problema: 3 a 4 em 100 crianças.

Por essas razões, o exame da orelhinha é tão importante quanto o teste do pezinho, amplamente difundido, e que detecta a doença fenilcetonúria, cuja incidência é de um caso a cada mil nascimentos. ?Quanto mais cedo fizer o exame, maiores as chances de um melhor desenvolvimento. A criança pode ter, desde pequena, um direcionamento correto?, afirma a deputada estadual Arlete Caramês (PPS), autora do projeto de lei que torna o exame obrigatório.

A pediatra Luci Yara Pfeiffer, presidente do Departamento Científico de Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade Paranaense de Pediatria, afirma que o período ideal para a realização do teste é logo após o nascimento. A surdez não tem sintomas evidentes, sendo muito difícil para os pais, e até mesmo os profissionais de saúde em exames comuns, detectarem o problema. ?Quando a criança não escuta, não tem uma das maiores fontes de estímulo: a fala da mãe, do pai ou de quem cuida dela. Vai se isolando do mundo. Esse quadro pode acarretar uma deficiência mental pela falta de estímulo. Se um deles falha, os outros serão prejudicados?, explica.

Luci acredita que, apesar do preço do aparelho (entre US$ 10 mil e US$ 16 mil), vale a pena investir na implantação do exame. ?É um teste muito simples, que dura entre 3 a 5 minutos, sem qualquer tipo de dor. Um aparelho (que tem a versão portátil) pode fazer exames em muitas crianças. Não existem mais dúvidas dos benefícios que o diagnóstico precoce traz?, comenta a pediatra. Para ela, há o interesse em criar um programa para o teste, tanto em nível estadual quanto nacional, mas é preciso que ele se concretize efetivamente.

Sesa estuda proposta para implantação do exame

Irvando Carula, do Departamento de média e alta complexidade da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), informa que o órgão deve concluir este mês uma proposta para a implantação do teste da orelhinha no Paraná. De acordo com ele, os investimentos na compra dos aparelhos podem chegar a R$ 500 mil, além de R$ 100 mil mensais para a manutenção.

O estudo será analisado pela Sesa, e também pelo governador Roberto Requião. Ainda falta determinar onde ficariam os aparelhos, em que momento o teste seria feito e como recursos seriam garantidos em 2006 para isso.

Carula conta que a rede estadual de saúde oferece tratamento para os deficientes auditivos de diferentes graus. Atualmente, são 24 clínicas que disponibilizam o serviço, com a entrega e manutenção gratuitas de aparelhos auditivos, nos casos necessários. Os estabelecimentos estão sendo vistoriados para saber se possuem condições técnicas de fazer parte do programa do teste da orelhinha a ser implantado. Segundo Carula, quatro municípios paranaenses – Campo Mourão, Paranavaí, Araucária e São José dos Pinhais -, já disponibilizam o exame. (JC)

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