Tese critica publicidade de automóveis

A responsabilidade da irresponsabilidade da indústria automotiva é o tema de um trabalho de educação para o trânsito desenvolvido pelo Detran do Rio Grande do Sul em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. O objetivo da tese é abrir fogo contra a mídia que incentiva os motoristas a exagerarem na velocidade, já que costumam relacioná-la ao espírito de aventura e liberdade. "O trânsito é a nona causa de mortes do planeta. São 1,3 milhão de vidas perdidas por ano no mundo todo. É como se cinco tsunamis acontecessem por ano, sem causar o mínimo da comoção", diz o técnico superior em trânsito do Detran-RS, Paulo Meira. Só no Brasil, são 50 mil vítimas fatais por ano.

Ele acredita que boa parte desses acidentes são reflexo de uma realidade pouco aparente, mas decisiva: o excesso de velocidade. "Enquanto as autoridades públicas e as organizações não-governamentais têm recursos escassos para campanhas, a indústria automobilística tem contas polpudas para investir na publicidade, onde via de regra, mostram o quão velozes podem ser os automóveis", diz.

A vinculação de algumas marcas à velocidade não é exclusividade do Brasil. Um estudo do Insurance Bureau of Canada, realizado a partir da análise de mídia televisiva nos Estados Unidos e no Canadá, mostrou que dos 250 comerciais analisados, 45% continham ao menos uma seqüência de direção insegura. "Para chamar a atenção, os comerciais mostram cada vez mais ação em suas cenas, enquanto especialistas sabem que direção agressiva e velocidade são as maiores causas básicas de acidentes", diz Meira.

A publicidade atinge os motoristas através de um desejo inerente ao ser humano: a transcedência dos limites e o sentimento de liberdade. "A publicidade da indústria automobilística, quando apela para essa referência, legitima o desejo". Na contramão, as campanhas educativas, muitas vezes limitadas financeiramente, acabam não tendo o mesmo efeito, já que costumam ser imperativas e poucos gostam de ser mandados. "Para a norma funcionar, a pessoa tem que interiorizá-la, refletindo sobre os motivos subjacentes à norma", explica. Para Meira, faltam pesquisas na área para identificar como as campanhas podem ser mais eficientes. "A educação e conscientização é a forma eficiente de combate à influência negativa da mídia".

Outra forma de combate deve partir do próprio consumidor-motorista. "Quando ele detectar a influência negativa de uma determinada marca, deve usar o poder de veto do mercado". Além do boicote, é possível que seja feita uma queixa formal ao Conselho Nacional de Autoregulamentação Publicitária (Conar). "O cidadão que testemunhar, por exemplo, um comercial de pick up com apelo à violência ou intimidação dos demais condutores pode ser tirado do ar pelo Conar, através de uma denúncia da sociedade".

A médio prazo, Paulo Meira está estudando de que formas as ferramentas do marketing social podem ajudar na diminuição da carnificina no trânsito do País, revertendo a insistência da mídia da má influência.

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