Por causa das dificuldades ou impossibilidade de exercer determinadas atividades, alguns deficientes acabam desenvolvendo habilidades ou aguçando os outros sentidos. Um cego, por exemplo, pode aprimorar a parte sensitiva e de tato. Foi o que aconteceu com o massoterapeuta Michel Kallas, que atende pessoas com os mais diferentes problemas, em Curitiba. Aos 12 anos, ele teve uma doença chamada retinose pigmentar, que degenera a retina e provoca a perda da visão. “Isso ajudou muito no meu atendimento, porque a sensibilidade e habilidade nas mãos aumentou bastante”, afirma.
Há mais de 20 anos trabalhando como massoterapeuta, Kallas desenvolveu nesse período uma técnica chamada “medicina com as mãos”, criada a partir de estudos do conceito de medicina orgânica. De acordo com ele, ela consiste em uma massagem medicinal que estimula o organismo a produzir os “remédios” para curar as doenças da pessoa. “Se os órgãos estão tratados, podem produzir as substâncias que o corpo necessita. Quando estão bem, têm a capacidade de se auto-regenerar e de tratar as áreas comprometidas”, explica. A técnica de Kallas não utiliza medicamentos durante o tratamento.
Em virtude do desgaste natural do organismo e pela ingestão de substâncias químicas, os órgãos deixam de produzir esses “remédios”. Os clientes de Kallas procuram a técnica depois de tentar diversas vezes a cura na medicina convencional. “Por eu ter sentido na própria pele o que a medicina não consegue solucionar, acabei criando uma técnica de massagens para as pessoas que também não alcançam resultados positivos com a medicina convencional”, garante.
Os problemas mais freqüentes são depressão, fibromialgia, dores crônicas e reumáticas. “Não há milagre. Nos casos de depressão, não vou tirar o problema das pessoas. Mas a minha técnica vai fazer com que se sintam melhor e tenham mais calma para agir”, comenta o terapeuta. Segundo ele, os pacientes chegam graças aos comentários de pessoas já tratadas por ele e também encaminhadas por médicos. O massoterapeuta acredita que já atendeu a mais de 50 mil pessoas, e que os resultados até agora são excelentes.
O jornalista Wilson Portes está se tratando com Kallas há vinte dias. Ele está com um problema sério há cinco anos no menisco, que não permitia a ele se locomover direito, principalmente quando subia escadas. “Sempre tive preguiça de fazer o tratamento normal, que também inclui cirurgia. Quando fiquei sabendo do trabalho dele, vim aqui para ver o que podia fazer por mim. Hoje, com 20 sessões das 30 programadas, me sinto bem melhor”, atesta. Portes ainda não está forçando muito o joelho, mas já não sente a mesma dor quando sobe escadas. “Além de tudo isso, estou bem mais calmo e tolerante”, declara.
Alternativo
O presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM) do Paraná, Donizete Giamberardino Filho, explica que a massoterapia não é reconhecida como profissão no Brasil, fazendo parte das chamadas terapias alternativas. “Ela não se enquadra na fisioterapia nem na medicina”, comenta. De acordo com ele, as funções de um médico são fazer o diagnóstico e prescrever o tratamento adequado, o que não pode ser realizado por Kallas. “Ele pode somente fazer terapia complementar. As pessoas que procuram essa técnica devem estar cientes de que ele não é médico”, alerta. Giamberardino classifica como inadequada o nome da técnica “medicina com as mãos”.”Também não se pode prometer resultados. Aos médicos, a orientação é para que não tenham essa atitude, pois cada caso é diferente. Isso pode caracterizar propaganda enganosa”, adverte.