O temporal que atingiu o litoral do Estado no início da noite de domingo deixou muitas pessoas desabrigadas nos municípios de Matinhos e Guaratuba. A intensidade da chuva, que durou mais de cinco horas, foi tão grande que fez transbordar os rios que atravessam as duas cidades. Em Guaratuba, ainda na manhã de ontem, diversas casas estavam ilhadas e somente com a ajuda de barcos os moradores conseguiam sair. Apesar da chuva ter cessado, o alerta continua, já que a previsão é de novo temporal para os próximos dias.
As equipes da Defesa Civil começaram a prestar atendimento em Guaratuba logo após as 22h. Os bairros mais afetados foram Carvoeiro, Mirim, Cohapar e Piçarras. O diretor de operações do órgão, Nivaldo Godoy Guerin, confirmou que foi preciso emprestar da Prefeitura máquinas pesadas, como tratores e patrolas, para fazer os resgates. Mais de 100 famílias receberam atendimento e 31 pessoas tiveram que deixar as casas e ir para o ginásio de esportes Governador José Richa.
Andréa Gonçalves Agostinho passou a noite no local com os quatro filhos. Ela conta que a valeta que fica próxima à sua casa, em Piçarras, transbordou e a água invadiu tudo. ?Só deu tempo de salvar a geladeira. O resto nem sei como ficou?, disse indignada, pois conta que essa foi a quarta vez que o problema aconteceu nos últimos anos.
Maria Albuquerque, que há três meses comprou um terreno no Carvoeiro, lembra que ficou três horas esperando por socorro. ?Eu cheguei da igreja e fui dormir. Quando acordei, estava com a água dentro de casa. Comecei a gritar e os bombeiros levaram três horas para conseguir chegar aonde eu estava?, conta. Durante esse tempo, Maria disse que presenciou o desespero de muitas famílias, que chegaram a colocar os filhos em cima do guarda-roupa ou tentavam empilhar mesas e cadeiras no meio da água para evitar que as crianças se afogassem.
No posto de saúde Lauri Sales, no bairro Piçarras, funcionários tiveram que tirar água do local antes de começar o atendimento. Já na região da Avenida Rui Barbosa, muitos moradores ainda estavam ilhados. Os barcos de pesca, em vez de irem para o mar, estavam sendo usados para a travessia das ruas.
A moradora Luíza Maria Correia passou a noite em claro, pois se a água subisse um pouco mais também atingiria a sua casa. Ela reclama que além da falta de atenção da Prefeitura, os moradores do bairro não colaboram e jogam todo o tipo de lixo na valetas. ?Faz quinze dias que meu marido colocou manilhas na rua, mas no sábado ele tirou um sofá que tinham jogado no local. Com todo esse lixo, não há como escoar a água?, ponderou.
O secretário de Obras, Viação e Serviços de Guaratuba, Marco Antonio Dal?Lin, falou que a Prefeitura tem feito o possível, porém a chuva de domingo foi maior que a média. ?Em todo o mês de janeiro choveu 89 milímetros, e só no domingo a chuva atingiu mais de 290 milímetros. Desse jeito não tem cidade que agüente?, justificou.
Em apenas três horas rio inunda boa parte de Matinhos
Foto: Lucimar do Carmo |
Desabrigada teve que passar a noite com filhos no ginásio. |
No município de Matinhos, a situação não foi diferente. Com três horas de chuvas, a água do principal rio que corta a cidade dobrou de volume e alagou boa parte do bairros. Além da Vila Nova, Tabuleiro, Cohapar, Mangue Seco e Sertãozinho, parte da região central e de Caiobá também foram atingidos. Perto de 100 pessoas foram resgatadas pelo Corpo de Bombeiros – 20 delas foram alojadas no ginásio de esportes do SESC Caiobá.
O comandante do Corpo de Bombeiros de Matinhos, tenente Rafael Lorenzetto, confirmou que durante à tarde de domingo eles já tinham informações sobre a chegada do temporal, e por isso solicitaram reforço da unidade de Paranaguá.
O catador Edson de Oliveira contou que as três crianças e mulheres que estavam na casa foram levados para o ginásio, enquanto ficou em casa para proteger o que restou. ?Faz um mês que me mudei e agora perdi quase tudo?, lamentou. Os trabalhos de resgate duraram toda a madrugada, e ontem pela manhã muitos moradores aproveitaram o tempo abafado para secar móveis e roupas atingidas pela chuva.
Na região da Avenida Curitiba, muitas casas ainda estavam com as marcas de água e lama nas paredes. De acordo com informações da Defesa Civil do Estado, em Pontal do Paraná, a chuva não deixou desabrigados.
Simepar alerta para mais chuvas na região
Roger Pereira
Se depender das previsões do Instituto Tecnológico Simepar, a população do litoral deve se manter em estado de alerta. Apesar de não crerem em um volume de água tão grande quanto o que caiu na madrugada de ontem, os meteorologistas advertem que a possibilidade de chuva deve persisitir durante toda a semana.
?A chuva que caiu na madrugada de ontem foi resultado de uma frente fria que está avançando sobre o oceano e induziu à instabilidade. Essa frente fria segue sobre nosso litoral até o final de semana, podendo ocorrer chuvas fortes a partir dos finais de tarde?, explicou o meteorologista do Simepar, Samuel Braun. ?Mas dificilmente vai chover na mesma quantidade que ontem, quando choveu, em oito horas, o equivalente à média do mês da região?, acrescentou.
Ontem, em Guaratuba, foi registrado um volume de chuva de 292,8 milímetros (mm), enquanto a média histórica para o mês de março é de 300 mm. De acordo com o Simepar, a frente fria só deve deixar o litoral paranaense na sexta-feira (16).
A coordenadoria estadual de Defesa Civil também manteve o alerta aos municípios para o risco de novos alagamentos nesta madrugada.
Mais estragos
Outros registros de alagamento ocorreram na região noroeste do Paraná. Devido às chuvas, o Rio Paraná apresentava-se, ontem, 1,7 metro acima de seu nível normal, causando alagamentos em Marilena, São Pedro do Paraná, Porto Rico e Querência do Norte. As coordenadorias municipais de Defesa Civil da região já contabilizavam ontem 56 famílias desalojadas. Doze famílias em Querência do Norte estão utilizando abrigo público.
Outra preocupação na região é quanto aos animais. A Polícia Ambiental está monitorando constantemente as margens do rio. A situação é considerada ?sob controle?, mas, com a previsão de novas chuvas, é considerada a possibilidade de agravamento do cenário.