Matinhos está pronta para a temporada. Porém, velhos problemas, como a constante
 erosão na orla por causa das ressacas e a falta de ligações de esgoto à rede da Sanepar, continuam a assustar alguns veranistas. (Fotos: Ciciro Back e Chuniti Kawamura/O Estado).

Os turistas já começaram a invadir as praias do Paraná. No entanto, muitos ainda estão insatisfeitos com a situação do litoral. Uma das reclamações nesta semana, em Matinhos, é em relação ao lixo jogado na areia da praia e a falta de atrações. Já os comerciantes estavam animados com o calor e com as perspectivas de boas vendas, como no verão passado.

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Esta é a primeira vez que Gilmar Conceição da Silva, morador de Campo Mourão, visita a cidade de Matinhos e a impressão que teve não foi tão positiva assim. ?Tem lixo acumulado na areia da praia.? A mesma opinião tem o veranista Silvio Cabral do Amaral, de Santo Antônio da Platina. Ele reclamou que alguns pedaços da praia tinham muita sujeira e o cheiro não estava agradável.

Cirlene Pereira, de Foz do Iguaçu, tinha a mesma reclamação. Mas disse também que, em parte, a culpa é dos próprios turistas que não jogam o lixo no local adequado. Mesmo assim, gostou da praia e pensa em voltar para aproveitar mais alguns dias em janeiro.

Já os comerciantes estão bem entusiasmados com o início da temporada. Eles apostam que o calor vai atrair muita gente para o litoral. A família de Artur Vieira Garcia, que aluga caiaques na Praia Mansa, já está preparada para atender aos turistas e as expectativas são muito boas. ?Todos os 35 caiaques devem ir para a água durante a temporada?, diz. Isso garante renda para a família: cada meia hora custa R$ 5.

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O vendedor de sorvetes Almir Ferreira também não esconde a animação. Para ele, o início da temporada já estava melhor do que a do ano passado. ?E olha que foi a melhor dos últimos 10 anos. Fez muito calor?, comentou.

Governo

No entanto, eles não estão muito contentes com os investimentos municipais e estaduais. Para os comerciantes, o trabalho de limpeza deveria ser mais eficiente e o ramo hoteleiro deveria ser mais forte. ?Cada ônibus que chega na cidade já são 40 turistas. Chega esta época e já faltam vagas?, diz.

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A comerciante Tatiane Vendrusculo, que conseguiu instalar de vez a loja no litoral devido ao público que conquistou com a instalação da Universidade Federal do Paraná na cidade, pede mais atenção para o conforto dos turistas. ?As pessoas reclamam muito da falta de banheiros públicos na praia?, diz.

Imóveis

Os proprietários de imobiliária também comemoram o movimento: boa parte das casas já está alugada. Segundo o delegado do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis, Michel Wolf, quem decidiu na última hora passar o réveillon no litoral tem que se apressar para pegar as últimas unidades. Ele diz que, em média, os pacotes são fechados por um período de 10 dias e os preços são bem variados. É possível encontrar diárias de R$ 80 a R$ 300.

Mas como os demais comerciantes, ele também tem algumas reclamações. ?Falta investimento. Praticamente só foi criada a universidade?, comenta Wolf, além de citar a falta de atrações como shows, atividades esportivas e recreativas.

Explicações

Segundo informações da assessoria de imprensa da Prefeitura de Matinhos, a limpeza durante a temporada é responsabilidade do governo do estado, já que a população de 40 mil habitantes chega até a 350 mil. Foram contratados 12 caminhões de lixo e 60 homens fazem o trabalho.

A Prefeitura também vem se esforçando para melhorar a programação de eventos. A abertura do Campeonato Brasileiro de Surfe será na cidade nos dias 6 e 7 de janeiro. A segunda etapa será em Guaratuba. Haverá atividades recreativas na areia das praias com projetos itinerantes. No réveillon haverá queima de fogos e trio elétrico.

Em relação aos banheiros, eles devem ser construídos juntamente com o quiosques. Mas a medida ainda precisa ser aprovada pela União, já que a praia é de propriedade do governo federal. Este ano foram construídos mais chuveiros: eles ganharam proteção para dar privacidade aos banhistas e foram afastados do calçadão.

Balneabilidade em Santa Catarina comprometida

Roger Pereira

Foto: Chuniti Kawamura/O Estado

Praia central de Camboriú tem apenas um ponto não poluído.

O Instituto Ambiental do Paraná (IAP) promete divulgar hoje o primeiro relatório sobre a balneabilidade das praias paranaenses para a temporada de verão que está iniciando. Após as polêmicas ocorridas no início deste ano, quando os relatórios, que apontaram diversos pontos impróprios no litoral do estado, e a forma como foram divulgados foram contestados, o primeiro relatório é aguardado com muita expectativa pelo governo do estado, prefeituras dos municípios do litoral, comerciantes da região e, principalmente, pelos veranistas.

Porém, o veranista que ano passado optou pelas praias de Santa Catarina baseado nas informações sobre a qualidade da água vai ter de ponderar melhor sua decisão nesta temporada. Isso porque a Fundação de Meio Ambiente (Fatma) catarinense divulgou dois relatórios sobre balneabilidade que indicam que mais de um quarto dos pontos avaliados no estado está impróprio para o banho.

No último boletim, divulgado na sexta-feira (15), 52 dos 182 pontos analisados pela fundação foram considerados impróprios para banho, o que representa 28,57% dos pontos avaliados e mostra um crescimento na poluição, já que, no relatório de uma semana anterior, eram 47 os pontos comprometidos (25,8%). A situação é ainda pior se comparada aos relatórios de dezembro de 2005, quando foram encontrados 30 pontos impróprios no primeiro boletim e 21 no segundo.

?Choveu muito em novembro. A sujeira dos morros e das estradas desceu para os rios e, então, para o mar?, disse Eliane Andrade, gerente do laboratório de balneabilidade da Fatma. Porém, ela salienta que grande parte dessa poluição se deve à falta de tratamento do esgoto nos municípios e o excesso de ligações clandestinas que levam o esgoto direto para o mar. Andrade explicou que, com a temporada, o número de pessoas no litoral praticamente dobra e quem sofre as conseqüências é o meio ambiente. ?Como boa parte do esgoto produzido no litoral é lançado diretamente ao mar, as reservas e a vida marinha passam a correr risco.?

Além de pontos comprometidos há bastante tempo, como as praias de Itajaí e Navegantes e a praia central de Balneário Camboriú, o levantamento também mostra diversos trechos poluídos nas praias de Florianópolis e outras famosas pela clareza de suas águas, como Bombinhas e Porto Belo. São Francisco do Sul está em situação oposta. Sete dos oito pontos de coleta são próprios para banho. A maioria das praias do sul do estado segue a mesma linha. De acordo com Eliane, a geografia contribui para isso. ?No norte há mais baías, enseadas, que retêm mais a água. No sul, com mar aberto, há mais circulação. Aí a poluição também é diluída?, explica.

Para fazer cada levantamento, a Fatma realiza cinco análises, e só então divulga o resultado. Se houver mais de 800 bactérias por 100 mililitros de água em duas vezes consecutivas, ou mais de 2 mil em uma única vez, a praia recebe a placa com a palavra ?imprópria?, escrita em vermelho.

Areia de dragagem poderá ser usado na orla

A areia que será retirada durante a dragagem do Porto de Paranaguá já tem, praticamente, seu destino definido: a recuperação das praias do Paraná. Após submeter a areia a testes em cinco diferentes laboratórios, inclusive em Paris, e constatar a ausência de metais pesados no material, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) autorizou, por meio de licença ambiental, o governo do estado e a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina a utilizar essa areia no litoral do Estado, uma autorização que era aguardada há oito meses.

?Foi uma surpresa extremamente agradável a notícia de que essa areia não está contaminada e poderá ser utilizada para recuperar nossas praias?, diz o presidente do IAP e secretário de Estado de Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos, Rasca Rodrigues. ?Ambientalmente, essa areia é igual a das praias, que acabou migrando para o fundo da região do porto. Não será possível nem notar a diferença entre essa areia e a que já está na orla?, afirma.

O presidente do IAP ressaltou ainda que serão feitos estudos e projetos para se saber onde a areia será aproveitada. Mas já adiantou que algumas das prioridades são a recuperação da orla da praia de Matinhos e o reforço no istmo da Ilha do Mel. A construção de ilhas artificiais e de uma praia na Ponta da Pita, em Antonina, também estão nos planos.

As obras ainda não têm data para começar. Vão depender do projeto, de verba e, principalmente, da dragagem, que se arrasta desde julho de 2005, devido a problemas com a licitação. Outro processo deverá ocorrer em janeiro e a expectativa das prefeituras do litoral é que a areia possa ser utilizada ainda no primeiro semestre de 2007. A autorização do IAP tem validade até 2010. Para Rasca Rodrigues, essa é uma boa solução para recuperar, a baixo custo, a orla das praias paranaenses, constantemente expostas aos estragos das ressacas.